Thursday, October 16, 2008

O Caminho

"O Caminho é eterno e não tem nome".

"O Caminho, enquanto existência é indistinguível e indescritível".

"O caminho que pode ser expresso não é o Caminho".

"A iluminação do Caminho é como se fosse a obscuridade".

"O avanço do Caminho é como se fosse o retrocesso".

Mas "quem segue e realiza através do Caminho adquire o Caminho".


Fairies in the battle of the flowers by Edith Mendham (1888-1911).


Monday, October 13, 2008

Mestre Lima de Freitas

"O mais importante de tudo é saber quem sou: não o que penso ser ou desejo ser ou pareço ser ou quero parecer. O que sou. Na total disponibilidade, com a falta de vergonha do simples, do ignorante, do arrogante.
Eu - sem o meu ego a fazer obstáculo. Totalmente desinteressado de mim mesmo, e das consequências que poderá acarretar para a minha pessoa esse entregar-me todo nas mãos de quem sou. Tamanha sinceridade só tem por limite Deus.
Mas ousá-lo é bem difícil. Estou cheio dos outros! O meu ego timorato acolhe-se sucessivamente nos alvéolos de assumir o que outrem de mim exige, sendo outro outrem dia a dia, ao sabor dos outros. Outros que a mim são iguais nisso de não serem senão outrem: e então, quem veradeiramente é?"

21 de Maio de 1986, Diário 20, Lima de Freitas

Sunday, October 12, 2008

Eterna criança

Senhora, que te posso dizer? Não te amei?
Quando ouvi o canto da cotovia não te escutei?
Ou nos silêncios clarividentes das noites de luar...
Não te pressenti na sombra e na luz, por não te amar?
E não te invoquei nas chamas das antigas fogueiras?
Não fui sempre tua, desde as primeiras brincadeiras?
Não te encontrei numa ancestral fonte sagrada?
E quando bebi a tua água viva, não te sentiste amada?
Não percorri as tuas clareiras com fé no meu coração?
Não te procurei nos velhos carvalhos e não comi o teu pão?
Não celebrei e não talhei o círculo como antigamente?
Não te invoquei no poder da ave e da serpente?
Não senti por ti o sabor frio e amargo da discriminação
daqueles que, por te ignorarem, se julgam quem não são?

Não subi todas as montanhas cheia de alegria?
Não procurei sempre a tua eterna sabedoria
que se encontra nos sonhos e nas ideias solitárias?
Não acreditei nas minhas intuições visionárias?
Não atravessei rios gelados em longínquas terras
e não fui onde me mandaste ir em todas as eras?
Não te senti na neve e na chuva, e na terra molhada?
Não te encontrei na claridade da manhã desejada?
Ou na alegria e na beleza do olhar de velhas e crianças
quando nos seus olhos brilhavam as tuas danças?
Não te senti no murmúrio de brisas e ventos
que me traziam memórias antigas e pensamentos
daqueles que há muito haviam sido esquecidos?
Senhora, não é por ti que recrio tempos perdidos?...

Friday, October 10, 2008

Vem, vem cá...

The Hosting of the Sidhe, W. B. Yeats

The host is riding from Knocknare
And over the grave of Clooth-na-bare;
Caolte tossing his burning hair
And Niamh calling Away, come away:
Empty your heart of its mortal dream.
The winds awaken, the leaves whirl round,
Our cheeks are pale, our hair is unbound,
Our breasts are heaving, our eyes are a-gleam,
Our arms are waving, our lips are apart;
And if any gaze on our rushing band,
We come between him and the deed of his hand,
We come between him and the hope of his heart.
The host is rushing 'twixt night and day,
And where is there hope or deed as fair?
Caolte tossing his burning hair,
And Niamh calling Away, come away.


Niamh, Niamh... Onde está o teu cavaleiro de cabelos de fogo que cavalga veloz e destemido entre noites e dias? Quem escuta ainda o teu chamamento, minha senhora das fadas?... Eles já nem sequer sabem que quando tu chegas, os ventos acordam e as folhas rodopiam pelo ar...

Vem, vem cá” murmura a tua voz, cada vez mais longe... e o meu coração fica despedaçado, senhora minha, porque não se pode perder o teu chamamento, que transforma as noites de luar em noites misteriosas e mágicas, onde todos os sentidos te enaltecem. Onde nós e o mundo tornamo-nos outros, para que no tempo fora do tempo e no espaço fora do espaço, o teu cavaleiro te encontre, senhora.

Celebramos o vosso encontro, e as nossas faces pálidas à luz da lua são os vossos rostos na noite e ao luar. São vossos os cabelos soltos, os olhos brilhantes e os lábios entreabertos. E tu, senhora, regressas de verdade e encontras o teu amado...

Senhora, que os nossos corpos sejam de novo templos, que reencontremos a pureza que nos permita honrar-te com todo o nosso amor e desejo, na floresta que é a tua casa.

Sunday, October 05, 2008

Friday, October 03, 2008

Ritual

Comece por invocar o seu círculo sagrado. Diga: "Invoco o meu círculo sagrado". Imagine que do infinito surge uma imensa esfera, composta por uma camada de Ar, outra de Fogo, outra de Água e no centro Terra.

Visualize-se a projectar-se no ar, a ir ao encontro da sua esfera. Veja-se a vir de Leste, dê três passos e entre no seu círculo sagrado composto pelo Ar Primordial, pelo Sopro Divino. Sinta à sua volta a força do Ar, deixe que essa energia o guie, deixe que essa energia trabalhe dentro de si. Sinta o poder da INTENÇÃO.

Na sua mente diga alto e bom som o que pretende, diga-o de um modo positivo. Repita três vezes. Sinta o Verbo dentro de si, tornando possíveis as suas palavras, dando-lhes SER.

Avance agora para Sul, passe do círculo de Ar para o elemento imediatamente seguinte: o Fogo. À medida que atravessa o círculo composto por Fogo Primordial, sinta esta energia primitiva a passar por si e a purificá-lo.

Enquanto atravessa o círculo de Fogo, o seu problema é desfeito pela Energia Pura, e os pensamentos negativos ou obstáculos que se ocultavam atrás desse problema são agora revelados. Não procure os pensamentos negativos, permita apenas que venham à superfície à medida que atravessa o círculo de Fogo, à medida que se purifica.

À medida que os pensamentos negativos e os obstáculos são purificados, dá-se uma transmutação de energia, criando assim à sua volta súbitas e poderosas explosões de energia que foi purificada, sendo agora positiva.

Imagine essa energia a alimentar aquilo que quer que aconteça, imagine essa energia positiva a solucionar-lhe o problema. Sinta a força da TRANSMUTAÇÃO da energia.

Avance agora para Oeste, passe do círculo de Fogo para o próximo elemento: a Água. Deixe-se flutuar dentro da Água Primordial, sinta o seu poder curador. Sinta a força da Água da Vida a actuar em si, sinta GERMINAR no seu subconsciente e no plano espiritual aquilo que quer que surja na sua vida.

Avance agora para Norte, passe para o círculo sagrado da Terra Primordal, uma maravilhosa ilha no meio dos outros elementos. Deixe os seus pés enterrarem-se um pouco na Terra negra e macia. Sinta a fertilidade da Terra a subir por todo o seu corpo, partindo dos seus pés. Sinta a força Viva da Terra a actuar em si, sinta FRUTIFICAR no seu consciente e no plano material aquilo que quer que surja na sua vida.

Caminhe até ao Leste e complete o seu círculo sagrado. Dirija-se agora ao centro do seu círculo.

Olhe para o céu infinito por cima de si e sinta-se UM com o universo. Seja Espírito Puro. Seja uno com a fonte de todas as possibilidades... Dê agora um momento da sua atenção à visualização da vivência do problema resolvido. Sinta-se como se já tivesse acontecido. Agradeça.

Agradeça também a presença do Espírito, agradeça a força da intenção do AR, a força da purificação do Fogo, a força da germinação da Água e a força da frutificação da Terra.

Fique em silêncio mais uns minutos e agradeça todas as provações por que tem passado e os momentos felizes que viveu.

O seu círculo mágico está fora do tempo/espaço profano, assim, o seu círculo mágico estará sempre ali, no tempo/espaço sagrado, para si, à sua espera. E poderá voltar sempre que desejar àquele lugar que não pertence a lugar nenhum, àquele tempo que não pertence a tempo nenhum.

Olhe uma vez mais o céu por cima de si e veja o seu círculo sagrado, de todos e cada um dos elementos primordiais, partir para o infinito...

Wednesday, October 01, 2008

Que o caminho se abra à tua frente...


Caminho com a roda do ano, para o fim de um ciclo. E o início de outro ciclo. Todos os meus sentidos estão despertos, o meu mundo amadurece em cores e aromas intensos, é Outubro.

Em Outubro o caminho abre-se à minha frente na terra arada, negra e fecunda. E do Norte e da Terra, caminho para o Este e para o Ar, levada pela intensidade do cheiro a terra molhada, que me faz pensar em mim própria como uma semente, que me faz querer voltar ao ventre da Terra Mãe e encolher com a estação, ficar de novo pequenina, libertar-me do supérfluo, deixar para trás as minhas máscaras, que inadvertidamente criei ao longo do ano, para renascer com a minha própria face em Yule.

Mas é ainda cedo, Outubro é tempo de colheita, as últimas colheitas do ano. E nada se compara à intensidade das cores, dos sabores e dos aromas de Outono. O cheiro das castanhas assadas que suavemente começa a aparecer nas ruas da minha cidade. Os dias a meio da semana, que se transformam em fantásticos fins de tarde solarengos, em clareiras em maravilhosos tons outonais, que sobrestimulam os sentidos. Os fins de semana a apanhar bolota e outros frutos silvestres. Os últimos piqueniques. E a minha cozinha transformada no meu laboratório alquímico, com os aromas das tartes de maçã e de abóbora a cozer no forno, com a cor intensa das taças de marmelada a apanhar sol junto à janela.

É Outubro, o tempo místico das primeiras fogueiras, do fumo branco que faz pensar em brumas misteriosas e mágicas, que me transporta para outros mundos. Volto-me, então, para o Fogo e para o Sul, agradecendo o suave calor do sol, sentindo fortemente a luz dos meus dias.

Nunca, em nenhuma outra altura do ano, sinto assim tanto a necessidade de apreciar o sol quando o dia é claro e luminoso, e a chuva quando chove. A maravilhosa chuva de Outono, que alimenta a terra ressequida nos meses de estio, que me vivifica. Estou, agora, no mundo da Água, no Oeste. Caminho descalça na minha praia vazia, na areia húmida, e o mundo à minha volta é um mundo que, a cada instante, se revela. É Outubro.

O Poder do Mito

MOYERS: Por quê mitos? Por que deveríamos importar nos com os mitos? O que eles têm a ver com minha vida?

CAMPBELL: Minha primeira resposta seria: “Vá em frente, viva a sua vida, é uma boa vida – você não precisa de mitologia”. Não acredito que se possa ter interesse por um assunto só porque alguém diz que isso é importante. Acredito em ser capturado pelo assunto, de uma maneira ou de outra. Mas você poderá descobrir que, com uma introdução apropriada, o mito é capaz de capturá-lo. E então, o que ele poderá fazer por você, caso o capture de fato?
Um de nossos problemas, hoje em dia, é que não estamos familiarizados com a literatura do espírito. Estamos interessados nas notícias do dia e nos problemas do momento. Antigamente, o campus de uma universidade era uma espécie de área hermeticamente fechada, onde as notícias do dia não se chocavam com a atenção que você dedicava à vida interior, nem com a magnífica herança humana que recebemos de nossa grande tradição – Platão, Confúcio, o Buda, Goethe e outros, que falam dos valores eternos, que têm a ver com o centro de nossas vidas. Quando um dia você ficar velho e, tendo as necessidades imediatas todas atendidas, então se voltar para a vida interior, aí bem, se você não souber onde está ou o que é esse centro, você vai sofrer. As literaturas grega e latina e a Bíblia costumavam fazer parte da educação de toda gente. Tendo sido suprimidas, toda uma tradição de informação mitológica do Ocidente se perdeu. Muitas histórias se conservavam, de hábito, na mente das pessoas. Quando a história está em sua mente, você percebe sua relevância para com aquilo que esteja acontecendo em sua vida. Isso dá perspectiva ao que lhe está acontecendo. Com a perda disso, perdemos efetivamente algo, porque não possuímos nada semelhante para pôr no lugar. Esses bocados de informação, provenientes dos tempos antigos, que têm a ver com os temas que sempre deram sustentação à vida humana, que construíram civilizações e enformaram religiões através dos séculos, têm a ver com os profundos problemas interiores, com os profundos mistérios, com os profundos limiares da travessia, e se você não souber o que dizem os sinais ao longo do caminho, terá de produzi-los por sua conta. Mas assim que for apanhado pelo assunto, haverá um tal senso de informação, de uma ou outra dessas tradições, de uma espécie tão profunda, tão rica e vivificadora, que você não quererá abrir mão dele.

(...)

MOYERS: Através da leitura de seus livros – The Masks of God e The Hero with a Thousand Faces – vim a compreender que aquilo que os seres humanos têm em comum se revela nos mitos. Mitos são histórias de nossa busca da verdade, de sentido, de significação, através dos tempos. Todos nós precisamos contar nossa história, compreender nossa história. Todos nós precisamos compreender a morte e enfrentar a morte, e todos nós precisamos de ajuda em nossa passagem do nascimento à vida e depois à morte. Precisamos que a vida tenha significação, precisamos tocar o eterno, compreender o misterioso, descobrir o que somos.

CAMPBELL: Dizem que o que todos procuramos é um sentido para a vida. Não penso que seja assim. Penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de modo que nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância no interior de nosso ser e de nossa realidade mais íntimos, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivos. É disso que se trata, afinal, e é o que essas pistas nos ajudam a procurar, dentro de nós mesmos.

MOYERS: Mitos são pistas?

CAMPBELL: Mitos são pistas para as potencialidades espirituais da vida humana.

MOYERS: Aquilo que somos capazes de conhecer e experimentar interiormente?

CAMPBELL: Sim.

MOYERS: Você mudou a definição de mito, de busca de sentido para experiência de sentido.

CAMPBELL: Experiência de vida. A mente se ocupa do sentido. Qual é o sentido de uma flor? Há uma história zen sobre um sermão do Buda, em que este simplesmente colheu uma flor. Houve apenas um homem que demonstrou, pelo olhar, ter compreendido o que o Buda pretendera mostrar. Pois bem, o próprio Buda é chamado “aquele que assim chegou”. Não faz sentido. Qual é o sentido do universo? Qual é o sentido de uma pulga? Está exatamente ali. É isso. E o seu próprio sentido é que você está aí. Estamos tão empenhados em realizar determinados feitos, com o propósito de atingir objetivos de um outro valor, que nos esquecemos de que o valor genuíno, o prodígio de estar vivo, é o que de fato conta.

MOYERS: Como chegar a essa experiência?

CAMPBELL: Lendo mitos. Eles ensinam que você pode se voltar para dentro, e você começa a captar a mensagem dos símbolos. Leia mitos de outros povos, não os da sua própria religião, porque você tenderá a interpretar sua própria religião em termos de fatos – mas lendo os mitos alheios você começa a captar a mensagem. O mito o ajuda a colocar sua mente em contato com essa experiência de estar vivo. Ele lhe diz o que a experiência é.


O Poder do Mito, Joseph Campbell