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Friday, September 12, 2008

O mito de Hórus, Osíris e Ísis.

Tenho esta imagem junto aos meus livros, porque quero que este mito seja a base da minha vida, sobretudo da minha vida com o Alexandre. :)

Bem, a verdade, verdadinha, é que passo a vida a contá-lo a toda a gente. Conto e volto a contar este mito aos meus amigos... que querem, eles esquecem-se. :P

Se repararem, junto com a imagem da trindade egipcia, está a mais especial de todas as minhas pedras coração. E, digam lá, não gostam das minhas pedras quase pirâmides? :)

Conhecem o mito? Bem, vou fazer um pequeno resumo:

Osíris e Ísis reinavam no Egipto. E o reino crescia com eles em beleza e sabedoria. Era um tempo feliz. Osíris, o senhor do sol, e Ísis, a senhora da lua e da magia, eram amados por todos. Ou quase todos. Seth sentia crescer dentro de si a ira e a inveja do sucesso do irmão Osíris. Seth queria o trono.

Osíris afastou-se do Egipto para travar uma batalha, deixando Ísis a governar em seu lugar, o que apenas enfureceu mais Seth. Quando Osíris regressou triunfante, Seth juntamente com 72 amigos fiéis foram saudá-lo e dar-lhe as boas vindas num grande banquete. Quando a festa em honra de Osíris estava a terminar, abriram-se as grandes portas e um magnífico sarcófago em ouro foi transportado para o meio do salão. Perante a aclamação de todos, Seth informou que o sarcófago seria para aquele que lá ficasse melhor. Contudo, o sarcófago tinha sido feito de modo a que servisse na perfeição a Osíris, que era mais alto, mais largo de ombros e mais forte que qualquer outro homem. Quando, por fim, foi a vez de Osíris experimentar o sarcófago, Seth e os amigos puseram-lhe de imediato a tampa, fecharam-no e atiraram-no ao nilo.

Após muitas dificuldades, Ísis conseguiu recuperar o sarcófago e o corpo de Osíris. Senhora da sua arte, Ísis usou a magia e trouxe de novo Osíris à vida. Durante o ritual, Ísis uniu-se com Osíris num acto sagrado e, assim, engravidou do divino Hórus. Mas, enquanto ambos descansavam, Seth rastejou sob a capa da escuridão até ao corpo de Osíris e retalhou-o em 14 pedaços que, de imediato, mandou os seus seguidores espalharem por todo o Egipto.

E a bela Ísis, com um coração profundamente dolorido, nunca desistiu de procurar o seu amado Osíris. Mesmo quando a gravidez e o desespero cresciam, Ísis manteve-se na sua busca. Sempre leal. E, com muita perseverança, Ísis encontrou, um a um, os pedaços do seu amado senhor. Todos menos um: o falo de Osíris tinha sido comido por um peixe e estava perdido para sempre.

Usando novamente a magia, Ísis uniu de novo o corpo de Osíris. Contudo, este agora estava incompleto. Não podendo ser o senhor da vida, passou a presidir no mundo dos mortos.

E a luta de Ísis continuou, teve que lutar sempre pela vida do seu filho Hórus que, enquanto criança, sofreu diversos atentados por parte do seu tio Seth. Mas a frágil criança Horus cresceu e transformou-se num guerreiro ao nível do seu divino pai. E as lutas entre Hórus e Seth começaram. Travaram-se muitas batalhas sangrentas, todas elas ganhas por Hórus que, após cada triunfo, pedia à Grande Enéada a devolução da terra e do título de seu pai. Mas a Enéada mantinha-se indiferente. E as batalhas recomeçavam.

Seth surgia numa grande variedade de disfarces. Mas Hórus sempre o reconhecia e matava-o. Contudo, numa dessas batalhas, Seth tirou o olho esquerdo a Hórus. Ísis substitui-o pelo poderoso Olho Udyat.

Por fim, Hórus parou de lutar e dirigiu-se a Ísis, pedindo que o ajudasse a conquistar a sua herança. E, porque Ísis era o trono, a Enéada concedeu-o, finalmente, a Hórus.

Este o mito. E, como nos tempos que correm, os mitos são vistos como analogias e estão sujeitos a interpretações, interpretemos também este.

Em primeiro lugar, temos o conceito de lealdade absoluta. Ísis nunca coloca sequer a possibilidade de desistir de Osíris. Consideremos que o contrário também seria verdadeiro. Assim, ensina-nos que não se desite de uma união, mesmo diante do fracasso e da derrota. É um conceito que me parece redentor.

Temos ainda o pormenor da concepção de Hórus, que nos mostra que um filho é sempre uma fonte de esperança, quaisquer que sejam as circunstâncias externas. E nada há de mais sagrado do que a própria vida. É a incapaciade de gerar vida que leva Osíris a reinar no mundo dos mortos.

Em terceiro lugar, temos a infância de Hórus: difícil, necessitando de cuidados continuos. O que nos mostra que também devemos cuidar do que ainda não amadureceu em nós, devemos ser capazes de proteger os nossos dons e tudo aquilo que nos é precioso e vulnerável, para que cresça e o nosso destino se cumpra.

Por último, há que referir, que o sucesso mais do que por mérito próprio, vem pela generosidade dos deuses. Invoquemos, então, a divina Ísis, o verdadeiro trono, para que por seu intermédio a nossa vida floresça em beleza, sabedoria e riqueza.

Este é o mito. Mas o que é exactamente um mito? Volto a insistir: só para o homem moderno que, infelizmente, perdeu quase todo o contacto com os mitos, é que um mito passou a ser uma fábula. Para a humanidade que o criou, o mito era suposto exprimir a verdade absoluta, pois contava uma história sagrada.

Antes de acabar, quero ainda referir que o mito de Hórus continua no nosso mundo. Sabemos que em Edfu, a casa de Hórus, todos os anos se realizavam festivais e recriações das antigas batalhas para celebrar a vitória de Hórus sobre Seth. Já na era romana, vemos uma estátua, que se encontra no British Museum, de Hórus vestido como centurião romano, montado num cavalo e espetando um lança em Seth, o crocodilo. Ainda mais tarde, a batalha de Hórus e Seth, tornou-se na luta de S. Jorge e o Dragão. Há até quem pense que o nome egípcio de Seth, Sutekh, pode ter evoluído para a palvra Satã.

Deixem-me só referir outro aspecto: para os egípcios, a primeira luz era Re-Hor-em-akhet, Re que é o Hórus do horizonte, em que Hórus é representado como um falcão, com as suas asas estendidas reflectindo o sol. E Hórus será sempre a primeira luz da manhã, nas nossas noites.

Termino, desejando que as nossas noites se unam com os nossos dias, que a serpente e a ave parem de combater e que ambos, o poder da ave e o poder da serpente, nos fortaleçam.

p.s. Já agora, deixo o link para o lugar dos meus sonhos e devaneios: Clareirazinha. :)

10 comments:

  1. Olá:) li o mito! acho que todas as religiões convergem de uma só, e depois cada grupo intrepreta a historia da sua maneira, mas este tema acho que tem que ser muito bem discutido!
    Gostei muito da historia a dedicação o amor que Isis sentia por Osiris, Horus foi o fruto desse amor, e tambem foi o modo que o autor escolheu para para dar continuidade a luta do bem contra o mal que era Seth.

    :)

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  2. "Temos ainda o pormenor da concepção de Hórus, que nos mostra que um filho é sempre uma fonte de esperança, quaisquer que sejam as circunstâncias externas. E nada há de mais sagrado do que a própria vida. É a incapaciade de gerar vida que leva Osíris a reinar no mundo dos mortos."

    São Longuinhos foi mandado construir por um rico de Braga que não conseguia casar a sua filha. Construiu a estátua e assim a filha arranjou casamento. A partir daí todas as não casadoiras da região iam à estátua de S.Longuinhos dar 3 voltas e fazer promessa para encontrar homem.

    E sabido que a lança de São Longuinhos é símbolo fálico e a trindade representada nas 3 voltas é mais que óbvia e sugestiva.

    "Já na era romana, vemos uma estátua, que se encontra no British Museum, de Hórus vestido como centurião romano, montado num cavalo e espetando um lança em Seth, o crocodilo."

    São Longuinhos está aqui representado como centurião Romano. Foi ele que espetou a lança a Jesus quando este estava crucificado e disse depois: "Este é mesmo o filho de Deus" Jesus, como é obvio não é uma serpente. Mas haverá espaço para inversões símbólicas se sabemos que naquela época Jesus era visto pelos Romanos como uma ameaça?

    "Deixem-me só referir outro aspecto: para os egípcios, a primeira luz era Re-Hor-em-akhet, Re que é o Hórus do horizonte, em que Hórus é representado como um falcão, com as suas asas estendidas reflectindo o sol. E Hórus será sempre a primeira luz da manhã, nas nossas noites."

    Porquê colocar na estátua de São Longuinhos tão óbvio e elaborado relógio solar? Coincidência ou prova do percurso iniciático esotérico do Bom Jesus?

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  3. Eu tambem tenho uma pedra piramide em quartzo tem duas faces que estao lapidadas, atenção mas eu encontreia assim nao a pus assim com forma de piramide;)

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  4. Olá, bruxinha linda. :)

    Eu também gosto muito da dedicação de Isis e do seu intenso amor... precisamos de relembrar mitos assim, não achas?

    Também tenho imensas pedras, com formatos bem estranhos... E pedra coração tens alguma? Tens que encontrar uma pedra coração... :)

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  5. Agradeço muito a referencia a São Longuinhos. Foi uma ajuda inestimável. Nunca me passou pela cabeça relacionar a estátua de S. Longuinhos, possivelmente o último elemento da escadaria iniciática do Bom Jesus, com o primeiro elemento com que começa a segunda parte do escadório e que é, exactamente, o crocodilo, as duas fantásticas fontes dos crocodilos: cada fonte tem quatro cabeças de crocodilos, orientadas segundo os pontos cardeais.

    Acredita, já nada me parece coincidência.

    Hum, bora lá rever a escadaria... ;)

    Começamos com as fontes das estrellas de oito pontas, temos logo de seguida as fontes do sol e da lua, no início do umbral. E entramos na via ladeados pelas capelas de coroamento piramidal. Paulo Pereira diz que «O coroamento destas capelas é piramidal, em degraus, evocando a arquitectura mítica antiga e, mais do que isso: o Templo de Salomão. Sabemos que esta forma ou figura arquitectónica – a cúpula piramidal com doze degraus, aliás raríssima entre nós (…) – anda desde meados do século XVI associada à imagem deste templo sagrado, a mais importante peça da arquitectura bíblica, confirmando o estatuto especial do lugar.»

    E, num caminho serpentiforme, damos início à escadaria dos planetas – que corresponderá a uma primeira fase de purificação/preparação.

    Fonte de Diana
    Símbolos: mão, arco e flecha; esfera armilar

    Fonte de Marte
    Símbolos: pistola, espada e flecha; esfera armilar

    Fonte de Mercúrio
    Símbolos: Caduceu de Mercúrio

    Fonte de Saturno
    Símbolos: mão, ceifeiro

    E, por último, tínhamos uma fonte que foi retirada e colocado noutro lugar: a Fonte de Júpiter.

    Termina a primeira fase e entramos na segunda, cujo primeiro elemento é o crocodilo e o último a estátua de S. Longuinhos. Incrível, não é?

    Desta vez o umbral tem duas maravilhosas fontes serpentes.

    E damos início, logo após as fontes das imponentes serpentes (de vários metros), ao escadório dos cinco sentidos. Aqui é preciso relevar as estátuas mitológicas antes de lhe terem mudado os nomes, e naturalmente o mito que lhes estava associado a quando da construção da via iniciática, antes do cabido da sé a modificar por a considerar indecentíssima e indecorosíssima. :)

    Esta nova etapa começa com a fonte das cinco chagas, e tem uma frase maravilhosa: «PURPUREOS / FONTES ODIUM / RESARAVIT / ADOXUM / NUNC IN CHRISTALLOS HIC TIBI / VERTIR AMOR», o que em tradução de Alberto Feio dá: «Rubras fontes abriu o ódio amargo, para ti agora o amor aqui as converte em cristais».

    Nem vou pegar na símbologia associada ao vermelho e branco, mais tarde vermelho e verde. Porque senão nunca mais saio daqui... passemos para o escadório dos 5 sentidos.

    1ª fonte dos sentidos:
    Fonte da Visão
    Símbolos: sol e águia – visão
    Mitologia: Argos Panoptes
    Latim: «Eu vejo uma vara vigilante», «Aqueles que, feridos, a olhavam, saravam».

    2ª fonte dos sentidos:
    Fonte da Audição
    Símbolos: boi/touro – ouvidos
    Mitologia: Orfeu
    Latim: «Ao meu ouvido darás gozo e alegria», «Tua voz soe aos meus ouvidos».

    3ª fonte dos sentidos:
    Fonte do Olfacto
    Símbolos: cão – nariz
    Mitologia: Jacinto
    Latim: «Varão sábio. Dai flores como o lírio e rescendei suave cheiro», «Percebeu o Senhor um suave cheiro», «A tua estatura é semelhante a uma palmeira... e o cheiro da tua boca é como o das maçãs».

    4ª fonte dos sentidos:
    Fonte do Paladar
    Símbolos: macacos – boca
    Mitologia: Ganimedes
    Latim: «Provei um pouco de mel na ponta duma vara; e eis porque morro...», «Prova o pão, e não nos abandones, como o pastor no meio dos lobos».

    5ª fonte dos sentidos:
    Fonte do Tacto
    Símbolos: aranhas - mulher, cântaro
    Mitologia: Midas
    Latim: «As minhas entranhas estremeceram ao seu toque», «Tocou a minha boca», «Chega-te a mim, meu filho, para que te toque».

    Mais do que uma via iniciática, quase parece tântrica, não?

    Há ainda a assinalar, relativamente ao escadatório dos cinco sentidos, que em todas as suas fontes encontramos a presença de cinco interessantes castelos ou torreões formados por quatro taludes e uma porta. Fulcanelli diz-nos o seguinte a propósito da representação do Athanor alquímico: "Os fornos estão representados como se fossem torreões com os seus taludes, as suas ameias, as suas seteiras". O athanor é o seio no qual se juntam os quatro elementos (torreão quadrado com quatro taludes) que são zelosamente vigiados (as ameias) com o objectivo de alcançar a obra (seteiras), permitindo a libertação do quinto elemento (a porta).

    Faltam as outras 3 fontes, não as actuais fontes das virtudes, mas as que deveriam estar lá e foram colocadas noutro sítio...

    A esquecida Fonte do Pelicano.
    Ao fundo da praça vemos o pelicano a alimentar os filhos numa árvore de três níveis, que já não é fonte.

    Fonte de Hércules, por detrás da igreja que culmina a escadaria, encontramos no bosque aí existente uma magnífica fonte, cujo nome se desconhece: montado sobre um ser bestial, um homem empunha na mão direita uma maça e na esquerda um escudo com um quincôncio gravado.

    E, por último, a fonte da origem. Possivelmente seria para estar no cimo da escadaria... mas, agora, para a encontrar só penetrando mais profundamente no bosque, onde a encontramos num enorme rochedo no cimo do qual um homem crava uma lança na rocha, daí brotando a água original. Infelizmente, já não há lança nem água... mas ainda representa a fonte da origem.

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  6. Eu ouvi a história diferente, que Ísis ao juntou as 14 peças e fez um falo com argila para o marido e num ritual engravidou. Gostei muito do blog, queria saber mais sobre rituais egípcios pq estou fazendo um estudo profundo sobre história, mitologia e rituais.

    A... esse tipo de conto sim deveriam ser contados as crianças... hoje em dia as histórias de contos de fadas são muito "boazinhas" de forma até incongruente com a realidade, não é?

    Abraços...

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  7. Horus parece ter um complexo de Edipo (será que isso é possível? Edipo está no futuro, kkkk) mal resolvido.
    Quando a mãe cria o filho sem o pai, o filho tem dificuldades de se relacionar com outras mulheres, porque de certa forma "casa" com a mãe. Então "precisa" da permissão da mãe ficar com outra mulher.
    Dá uma pesquisada, é bem parecido.
    E gostaria de acrescentar na definição de mito, que mitos servem para expressar pensamentos, emoções, acontecimentos, existem até mitos políticos.

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    do site.

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  9. Pesquisei o mito por estar fazendo um trabalho de história,mas achei bem lehal.Gostei.Não sei como nao pesquisei isso antes.Adorei.Foi uma ótima história. Parabens

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