No passado sábado, vi o filme Victoria, de Sebastian Schipper, 2015.
Há um momento em que dois assaltantes, a fugir da polícia, entram num prédio, encontram um homem nas escadas, apontam-lhe uma arma e obrigam-no a deixá-los entrar em casa dele. O que ele faz. Lá em casa, estavam a mulher e um bebé de meses, que os assaltantes acabam por levar como refém.
Antes de partirem, um deles ainda pergunta ao homem, que continua apavorado:
- Porque é que nos deixaste entrar, se tinhas cá dentro o teu bebé?...
Bem, eu estou absolutamente convencida que a reacção do homem, no filme, está de acordo com o modo como a maioria das pessoas reagiria.
O que é que nos tornou cobardes? Este modo vida, em que vivemos isolados nos nossos cubículos, certamente contribui muito para a cobardia do mundo moderno.
Outro elemento fundamental, para nos entendermos, é a nossa visão do tempo. O conceito do tempo linear, da seta do tempo, é moderno. Surge em oposição ao tempo cíclico, de antigamente. Com a mudança da percepção do tempo, deparamos com um terror impossível de vencer: a absoluta angústia perante a Morte, o Nada.
Antigamente, o próprio tempo cíclico levava a que conhecêssemos a morte intimamente, obrigando-nos a morrer inúmeras vezes, para renascer como outra coisa.
Morrendo e ressuscitando continuamente, o homem tendia com todo o seu ser para a conquista da morte. E a imortalidade renovava-se a cada dia.
Voltando ao filme, o homem deixou-os entrar, por causa de um medo terrível da sua própria morte. Mas, na verdade, ele morreu no instante em que os deixou entrar na sua casa. Morreu tal como era e tornou-se outro. Inevitavelmente.
E pronto, acho que vou terminar com uma música de uma banda fantástica: Danheim. :) A musica é Ulfhednar.
Até outro dia.