Peregrinar.
Creio que já disse aqui, que eu não faço rituais (entendidos no sentido de rituais estruturados de acordo com uma organização qualquer), mas isso não quer dizer que eu não os saiba fazer ou que não tenha coragem para os fazer. O que se passa é que, desde há muito tempo, eu faço um esforço consciente para que o meu caminho espiritual se centre no mundo e não na minha visão do mundo. E eu entendo que os rituais, por mais belos que sejam, são uma criação do sujeito que os faz e que, nesse acto, se relaciona com a sua própria representação do mundo dos deuses e não com o mundo dos deuses, em si mesmo.
Eu penso que não é possível, de todo, encontrar o mundo dos deuses, tal como ele realmente é, a menos que o papel central deixe de ser nosso e passe a ser desse mundo, em si mesmo.
De resto, esta nossa visão do mundo, e consequente representação do mundo, com o foco no sujeito e, mais do que isso, em quem vê, é um conceito moderno. E como é que este moderno entendimento cartesiano do mundo nos pode levar ao encontro do lugar do início? A minha resposta é: não pode.
Bem, voltei a falar de peregrinação. Céus, como eu quero voltar a peregrinar este ano! Quero que os meus sonhos me digam quando e onde devo ir. Quero que uma sabedoria superior me traga os ensinamentos que devo ter, antes de visitar os meus lugares. Quero sentir o entusiasmo absoluto, que redirecciona tudo e que me faz sentir como se fosse ainda uma criancinha. E quero voltar a «andar às vozes» como antigamente, para que o mundo me oriente e me diga como devo fazer essa peregrinação.
Nas minhas peregrinações, nada é deixado ao acaso, nem sequer a comida, mas, ao mesmo tempo, eu sinto que nada disso é verdadeiramente escolhido por mim... ;)
Bem, depois de visitar os meus lugares, quero regressar e acarinhar a incubação da mudança, perminto-me ser outra. :)
Peregrinar leva-me a outro verbo, que só é conjugado na 3ª pessoa: prazer. A divindade praz e prazerá. Os meus deuses e as minhas deusas prazem e prazerão. Que querem? É nisso que eu acredito, que encontrar o mundo dos deuses é conjugar o verbo prazer, que não pode ser conjugado na 1ª pessoa. ;)
Termino com uma imagem que adoro (e que já aqui coloquei antes), do extraordinário Frank Kelly Freas. E não consigo deixar de sorrir, ao pensar que, na verdade, nem eu própria sei para quem estou a escrever isto.... será para os meus seres feéricos? ;)