Wednesday, November 23, 2005

Percurso esotérico na escadaria do Bom Jesus, Braga

Podemos considerar três métodos de uso corrente para a explicação do símbolo:

O método etnográfico, que o interpreta no contexto das intenções e valores de uma cultura em particular, ou de várias delas comparativamente.

O método psicológico, que o interpreta no contexto das estruturas mais ou menos permanentes da psique humana.

O método esotérico (também chamado tradicional), que associa o símbolo a uma intencionalidade supra-humana.

Na escadaria do Bom Jesus, em Braga, estamos sem qualquer dúvida perante uma simbologia esotérica. Segundo Paulo Loução, “o esoterismo é a essência das religiões, uma linguagem universal por excelência. Expressa-se por símbolos que têm impacto na nossa mente espiritual. Esta linguagem inclui a razão, mas supera-a, daí a necessidade das chamadas iniciações. Os iniciados nos conhecimentos esotéricos captam instantaneamente as marcas deixadas por qualquer esoterista, de qualquer civilização, de qualquer tempo, seja em monumentos, seja na arte ou literatura.”

Klein também afirma que “os símbolos são universais” e que “as verdadeiras transmissões de segredos ocultos, sempre foram e serão feitas através de símbolos.” Por sua vez, Mircea Eliade diz que “os símbolos nos revelam certos aspectos da realidade – os mais profundos – que desafiam quaisquer outros meios de conhecimento.”

Ainda segundo Mircea Eliade, “as imagens, os símbolos, os mitos, não são criações irresponsáveis da psique, elas respondem a uma necessidade e preenchem uma função: revelar as mais secretas modalidades do ser.”

Para Jung o símbolo é a porta para o inconsciente colectivo, a memória da espécie.

Como proceder, então, à interpretação dos símbolos? Segundo Fernando Pessoa, há que “primeiro sentir os símbolos, sentir que os símbolos têm vida ou alma – que os símbolos são gente. Mais tarde virá a interpretação, mas sem esse sentimento a interpretação não vem.”

Para terminar esta breve introdução, citamos novamente Paulo Loução: “sempre que o homem teve algo de muito profundo a comunicar, transmitiu-o por símbolos. Nestes podemos sentir uma forma de solidariedade que ultrapassa o espaço-tempo. Os símbolos transportam uma ideia metafísica, despertam a alma e iluminam o coração. Para recebermos a sua mensagem é necessário calarmos a fantasia, alimentar a imaginação, sentir no silêncio a sua ideia-força e a alma de quem o esculpiu. Parar, olhar e escutar...”

Passemos, então, aos símbolos... :)

Vou-me socorrer de algumas fontes, nomeadamente o trabalho de Paulo Pereira, Enigmas e Lugares Mágicos de Portugal: Montes Sagrados, Altos Lugares e Santuários. Bem como Percurso alquímico na escadaria do Bom Jesus de Braga de José Ramos, pag da Nova Acrópole
Link: http://www.nova-acropole.pt/Artigos/artigo_percurso_alq_bomjesus.htm

E, entre outros que por esquecimento ficam por referir, a Wikipédia e o Dicionário de Símbolos, de Chevalier e Gheerbrant.

Comecemos, então, pelo simbolismo associado a Montanha Sagrada:
José Ramos: «O ser humano sentiu desde sempre uma forte atracção, admiração e veneração pela Montanha. No Minho, para citarmos apenas alguns exemplos, temos inúmeros locais de culto cristianizados como a Senhora da Penha em Guimarães, o Sameiro, a Nossa Senhora da Peneda e o próprio Bom Jesus de Braga.

Qual é a razão de toda esta ligação sagrada entre o homem e a montanha? É sempre difícil entender racionalmente o conteúdo de um símbolo e, no caso das montanhas sagradas, ainda se torna mais complexo por não se tratar apenas de um símbolo mas, na maior parte das vezes, de locais fortemente carregados de energia. No entanto, tentaremos ver um pouco do seu significado simbólico.

A montanha transmite-nos ideias como estabilidade, imutabillidade e, por vezes até, pureza. A sua elevação em direcção ao céu permite entrar em relação com a divindade; é o retorno às origens. A montanha é o Axis-Mundi: o Monte Meru na Índia, o Kuen-Luen na China, o Fuji-Yama no Japão, o Olimpo grego, o Alborj persa, o Moriah maçónico, a Montanha Ka'ba de Meca, o Gólgota do cristianismo, o Montsalvat do Graal, a Montanha Qaf do Islão, a Montanha Branca celta, o Potala tibetano.

Richard de Saint-Victor traduz-nos muito bem o que significa a Montanha para o homem sagrado: "A ascensão dessa Montanha pertence ao conhecimento de si, e aquilo que se passa no topo da Montanha conduz ao conhecimento de Deus". Aqui o citado autor revela todo o sentido alquímico como arte da transmutação: elevar o homem, da sua natureza de chumbo, até ao estado purificado do ouro.”»

Segundo Chevalier, o simbolismo da montanha é múltiplo: prende-se à altura e ao centro. Na medida em que ela é alta, vertical, elevada, próxima do céu, participa do simbolismo da transcendência; na medida em que é o centro das hierofanias atmosféricas e de numerosas teofanias, participa do simbolismo da manifestação. Ela é assim o encontro do céu e da terra, morada dos deuses e objectivo da ascensão humana. Vista do alto, ela surge como a ponta de uma vertical, é o centro do mundo; vista de baixo, do horizonte, surge como a linha de uma vertical, o eixo do mundo, mas também a escada, a inclinação a escalar. A montanha exprime ainda as noções de estabilidade, de imutabilidade, às vezes, até mesmo de pureza. Na mitologia taoísta, os Imortais iam viver sobre uma montanha, que era chamada A Montanha do Meio Mundo, em torno do qual giravam o Sol e a Lua. O simbolismo mitológico da montanha primordial ou cósmica encontra certo eco no Antigo Testamento: as altas montanhas, lembrando fortalezas, são símbolos de segurança (Salmos 30, 8). Deve-se lembrar o sermão sobre a montanha (Mateus 5, 1 s.) que, sem dúvida, na nova aliança, responde à lei do Sinai na antiga. Observemos ainda a descrição da transfiguração de Jesus sobre uma alta montanha (Marcos 9, 2) e a da ascensão sobre o monte das Oliveiras (Lucas 24, 50; Atos 1, 12). Resumindo as tradições bíblicas e as da arte cristã, que ilustram com diversos exemplos, de Champeaux e dom Sterckx extraem três significações simbólicas principais da montanha: 1. A montanha faz a junção da terra ao céu; 2. A montanha santa se situa no centro do mundo; 3. O templo é associado a essa montanha (CHAS, 164-199).


Escadaria – Umbral
O Pórtico do Bom Jesus, um arco à entrada da escadaria, mostra o brasão de D. Rodrigo de Moura Teles, Arcebispo de Braga, responsável pela construção, em 1723, do primeiro grande lanço de escadaria e capelas.

No exterior dos pilares duas inscrições:
"Jerusalem sancta restaurada e reedificada no anno de 1723" e "Pelo illustrissimo senhor Dom Rodrigo de Moura Telles Arcebispo primaz"

Vejamos, então, segundo CHEVALIER, J. e GHEERBRANT o simbolismo do portal: a porta simboliza o local de passagem entre dois estados, entre dois mundos, entre o conhecido e o desconhecido, a luz e as trevas, o tesouro e a pobreza extrema. A porta abre-se para um mistério, tendo um valor dinâmico, psicológico, pois não somente indica uma passagem, mas convida a atravessá-la. A passagem à qual ela convida é, na maioria das vezes, na acepção simbólica, do domínio profano ao domínio sagrado.

Nesta primeira parte, estão as capelas do início da Via-Sacra: cenáculo, horto, prisão, trevas, açoutes, coroação, pretório, caminho do calvário, queda e crucificação.

Voltemos então à escadaria do Bom Jesus: começando mesmo no início da escadaria, antes da parte que serpenteia pelo monte, temos nas paredes junto ao portal de entrada duas fontes: de um lado a fonte do sol e do outro a fonte da lua. Não nos deixam sequer margem para dúvidas, somos devidamente informados que estamos perante uma via iniciática e possivelmente alquímica.

1ª fonte: Fonte do Sol – princípio masculino
2ª fonte: Fonte da Lua – princípio feminino


SOL – desde os mais remotos tempos, o Sol é o símbolo da luz, do conhecimento, do esclarecimento mental e intelectual. O simbolismo do Sol é tão diversificado quanto é rica de contradições a realidade solar. Se não é o próprio deus, é, para muitos povos, uma manifestação da divindade. Pode ser concebido como filho do Deus supremo. O Sol imortal nasce todas as manhãs e põe-se todas as noites no reino dos mortos; portanto, pode levar com ele os homens e, ao se pôr, dar-lhes a morte; mas, ao mesmo tempo, pode guiar as almas pelas regiões infernais e trazê-las de volta à luz no dia seguinte. Função ambivalente de psicopompo assassino e de hierofante iniciático.

Na República, Platão faz dele a imagem do Bem. A iconografia algumas vezes representa esses raios sob a forma alternativamente rectilínea e ondulada, para simbolizar a luz e o calor. Além de vivificar, o brilho do Sol manifesta as coisas, não só por torná-las perceptíveis, mas por representar a extensão do ponto primordial, por medir o espaço. Sob outro aspecto, o Sol é também destruidor, o princípio da seca, à qual se opõe a chuva fecundadora. Se a luz irradiada pelo Sol é o conhecimento intelectivo, o próprio Sol é a inteligência cósmica, assim como o coração é, no ser, a sede da faculdade do conhecimento.

LUA – cultuada desde a mais remota antiguidade, como a mãe universal, o princípio feminino que fertiliza todas as coisas, representa a alma. O simbolismo da Lua manifesta-se em correlação com o Sol. As suas duas características mais fundamentais derivam, de um lado, de a Lua ser privada de luz própria e não passar de um reflexo do Sol; de outro lado, de a Lua atravessar fases diferentes e mudança de forma. Por isso ela simboliza a dependência e o princípio feminino, assim como a periodicidade e a renovação. A Lua é o símbolo dos ritmos biológicos. Ë o astro que cresce, decresce e desaparece, cuja vida depende do movimento e da morte. A Lua tem uma história patética, semelhante à do homem, mas a sua morte nunca é definitiva. Este eterno retorno às suas formas iniciais, essa periodicidade sem fim fazem com que ela seja por excelência o astro dos ritmos de vida. O mesmo simbolismo liga entre si a Lua, as águas, a chuva, a fecundidade das mulheres, dos animais, da vegetação, o destino do homem depois da morte, as cerimónias de iniciação. As sínteses mentais formadas, possíveis de revelação do ritmo lunar, colocam em correspondência e unem realidades heterogéneas. A Lua é também o primeiro morto. Durante três noites, em cada mês lunar, ela está como morta, desapareceu. Depois reaparece e cresce em brilho. Ela é para o homem o símbolo dessa passagem da vida à morte e da morte à vida. A Lua representa o conhecimento indirecto, discursivo, progressivo, frio. Como a sua luz não é mais que um reflexo da luz do Sol, a Lua é apenas o símbolo do conhecimento teórico, conceptual, racional. Nesse ponto está ligada ao simbolismo da coruja.

Note-se que as fontes que assinalam o início da opus, são também “estrelas de oito pontas” – o número oito é o símbolo da geração espiritual, o símbolo do conhecimento espiritual do ser humano.

José Ramos: «As estrelas estão associadas ao simbolismo do espírito e ao conflito entre as forças espirituais (a luz) e as forças materiais (as trevas), pois trespassam a obscuridade». Mas o octógono (símbolo místico universal) é também o símbolo da totalidade: o octógono resulta da união entre o quadrado da terra (símbolo da ordem terrestre) e o círculo do céu (expressão da ordem celeste), simbolizando a comunicação entre ambos. Do centro desta ligação emerge o “homem perfeito” de Pitágoras. «É um símbolo de regeneração, de passagem do que é efémero ao que tem validade eterna.

Na Alquimia, segundo Fulcanelli, a estrela é a assinatura do tema inicial da Obra: "A presença do sinal estrelado encontra-se em todas as modificações internas dos corpos tratados filosoficamente."

Subindo as primeiras escadarias, em forma cónica, confrontamo-nos com um umbral que teremos de ultrapassar. Trata-se da porta de acesso que nos recorda que a vida é dual: dia e noite, luz e trevas, masculino e feminino, branco e preto, positivo e negativo, acção e pensamento, ouro e prata, etc. O Sol é o espírito divino e a Lua, que reflecte a luz solar, é a alma. Por isso, num dos pilares laterais encontra-se a Fonte do Sol e no outro a Fonte da Lua, unindo-se ambos através do arco de fecho. Sol e Lua são símbolos da eterna dualidade que possibilita a criação e a vida.

Acerca da união entre o Sol e a Lua, Fulcanelli, na sua obra "O Mistério das Catedrais", escreve o seguinte: "A Lua recebe os raios do Sol e conserva-os secretamente no seu seio. É a dispensadora da substância passiva que o espírito solar vem animar (...) Da união desses dois princípios resulta a matéria viva, submetida às vicissitudes das leis da mutação e da progressão.»

Passamos, então, o umbral e dá-se início à peregrinação.

Vejamos, ainda segundo Chevalier, o simbolismo das escadas: os diferentes aspectos do simbolismo da escada estão todos ligados ao problema das relações entre o céu e a terra. A escada é o símbolo por excelência da ascensão e da valorização, ligando-se à simbólica da verticalidade. Mas ela indica uma ascensão gradual e uma via de comunicação em sentido duplo entre diferentes níveis. Quando se trata de valor, observou Bachelard, todo progresso é concebido como uma subida; toda elevação se descreve por uma curva que vai de baixo para cima. A verticalidade seria a linha do qualitativo e da elevação; a horizontalidade, a linha do quantitativo e da superfície. A altura seria a dimensão de um ser visto do exterior. Na arte, a escada aparece como o suporte imaginário da ascensão espiritual. Ela é também o símbolo das permutas e das idas e vindas entre o céu e a terra.

No pórtico de entrada encontramos as seguintes capelas:

Capela da Última Ceia (ou do Cenáculo): está representada, em imagens de tamanho natural, a última ceia. Na frente da capela a inscrição: Coena facta... accepit Jesus panen...et ait...commedite:Hoc est corpus meum. Joan. 13, 2. Math. 26, 26. Em português: "Acabada a ceia...tomou Jesus o pão...e disse comei: este é o meu corpo."

Capela da Agonia (ou de Cristo no Horto): representa o episódio do Monte das Oliveiras. Tem a inscrição: Factus in agonia prolixius orabat. Luc. 22, 43 – "Posto em agonia orava com mais fervor".

Coroamento piramidal destas capelas: para Paulo Pereira «O coroamento destas capelas é piramidal, em degraus, evocando a arquitectura mítica antiga e, mais do que isso: o Templo de Salomão. Sabemos que esta forma ou figura arquitectónica – a cúpula piramidal com doze degraus, aliás raríssima entre nós (…) – anda desde meados do século XVI associada à imagem deste templo sagrado, a mais importante peça da arquitectura bíblica, confirmando o estatuto especial do lugar.»

Estamos agora perante conjuntos de escadas compostos por 39 lanços, sempre num caminho serpentiforme.

Escadaria dos planetas – fase de purificação/preparação.

3ª fonte: Fonte de Diana
Símbolos: mão, arco e flecha; esfera armilar
Diana: deusa romana identificada com a Ártemis dos gregos. É a deusa da caça e a irmã gémea de Apolo. Para os romanos, Diana é principalmente a deusa da castidade e da luz da lua. Assim, representando nas fontes dos planetas a Lua, está relacionada, pela simbologia astrológica, com o centro emocional da pessoa e o seu lado inconsciente.

José Ramos: «Diana é muito bem definida por Délia Guzmán nos seguintes termos: "Sob o símbolo superficial da deusa dos bosques e dos animais – às vezes para protegê-los e outras vezes para destruí-los e caçá-los - está a vigilância da Natureza, a limpidez da Vida, a pureza dos costumes, dos sentimentos e dos pensamentos. Digna complementaridade de Apolo, ela não quer que o Sol ilumine nada que não possa ser mostrado em toda a sua plenitude e nobreza". Desta forma, Diana aponta a necessidade de o homem se purificar a fim de poder penetrar nos profundos mistérios da Natureza.

Por outro lado, o facto de a Fonte de Diana estar presente no início da escadaria é bem interessante, pois um dos sinais que muitas vezes se encontra no princípio da Obra alquímica é precisamente o arco e a flecha, indicando que se está no caminho certo. Ouçamos mais uma vez Fulcanelli sobre o assunto: "O Artista caminhou durante muito tempo: errou pelas vias falsas e pelos caminhos duvidosos; mas a sua alegria explode finalmente! O ribeiro de água viva corre a seus pés; sai aos borbotões do velho carvalho oco. O nosso Adepto atingiu o alvo. E assim, desdenhando o arco e as flechas com que, a exemplo de Cadmo, trespassou o dragão, vê ondular o límpido caudal cuja virtude dissolvente e a essência volátil é confirmada por um pássaro pousado na árvore".»

Ártemis (Diana) – filha de Zeus e de Letona (Leto), Ártemis é a irmã gêmea de Apolo. Virgem severa e vingativa, indomável, aparece na mitologia como o oposto de Afrodite. Castiga cruelmente todo aquele que lhe faltar o respeito, transformando-o, por exemplo, em um cervo e ordenando a seus cães que o devorem; em contraposição, recompensa com a imortalidade seus adoradores fiéis, como no caso de Hipólito, que morreu vítima de sua castidade.

Simboliza a fecundidade. Aos olhos de certos psicanalistas, Ártemis simbolizaria o aspecto ciumento, dominador e castrador da mãe. (Chevalier e Gheerbrant, 1998)

Associação entre fontes e capelas:
Capela da Prisão de Cristo (ou da Traição) com a Fonte de Diana.
Na Capela da Traição está representada a traição de Judas. A inscrição diz:Manus injecerunt in Jesum, et tenuerunt eum. Math. 26, 50- "Lançaram as mãos a Jesus e o prenderam"

4ª fonte: Fonte de Marte
Símbolos: pistola, espada e flecha; esfera armilar
José Ramos : «Prosseguindo a escalada vamos encontrar a Fonte de Marte com os seus atributos guerreiros. Astrologicamente, Marte é a energia, a vontade, o ardor, a tensão e a combatividade. No homem, é o combate dos desejos e das paixões. Alquimicamente está associado ao Ferro. Para a Alquimia "os metais são os elementos planetários do mundo subterrâneo; os planetas, os metais do céu: o simbolismo de uns e de outros é paralelo. Os metais simbolizam energias cósmicas solidificadas e condensadas, com influências e atribuições diversas" (Dicionário dos Símbolos, J. Chevalier).»

Marte: deus da guerra, poderá estar aqui associado com o guerreiro místico, ora o valor de um guerreiro místico provem do seu desapego face à vida material. Na simbologia astrológica, Marte é acção, motivação para agir, coragem, força e vontade pessoal. O poder do guerreiro místico residia precisamente no exercício da vontade.

Ares (Marte) - Deus da guerra, Ares é filho de Zeus e de Hera. Entretanto, é o mais odioso de todos os Imortais, diria seu pai; esse louco que ignora as leis, diria sua mãe; esse exaltado, esse mal encarnado, esse cabeça-de-vento, diria Atena, sua irmã.
Simboliza a força bruta. (Chevalier e Gheerbrant, 1998)

Associação entre fontes e capelas:
Capela das Trevas com a Fonte de Marte.A capela tem uma só figura de Cristo, sentado numa pedra, com os pulsos presos e os olhos vendados. A inscrição diz: Tunc expuerunt in facien ejus...alh auten palmas in faciem ejus dederunt. Math. 26, 67.-"Então uns lhe cuspiram no rosto... e outros lhe deram bofetadas."

5ª fonte: Fonte de Mercúro
ímbolos: mão segura o caduceu
José Ramos: «No patamar seguinte encontra-se a Fonte de Mercúrio. Ele é o filho do Sol e da Lua, assumindo assim o papel de mediador. É o princípio de todas as ligações, dos intercâmbios, do movimento e da adaptação. Mercúrio porta o caduceu, símbolo de uma natureza dualista na qual se confrontam e se harmonizam os princípios contrários e complementares: negativo-positivo, passivo-activo, feminino-masculino, etc. No homem está relacionado com a inteligência e o discernimento. Nos metais alquímicos é o Mercúrio propriamente dito.»

Mercúrio: rápido como o pensamento, era o mensageiro de Júpiter e dos outros deuses. Mercúrio está identificado com Hermes dos gregos. Os atenienses e seguindo o seu exemplo outros povos da Grécia, e depois os romanos, colocavam Hermes/Mercúrio nas encruzilhadas das cidades e grandes estradas, porque Hermes/Mercúrio presidia às viagens e aos caminhos. Tem por atributo sandálias aladas, que significam a força de elevação e a aptidão para os deslocamentos.

Hermes simboliza os meios de troca entre o Céu e Terra, a mediação, em suma, meios que se podem perverter em comércio simoníaco ou elevar-se, ao contrário, até a santificação. Assegura a viagem, a passagem entre os mundos infernais, terrestres e celestes. (Chevalier e Gheerbrant, 1998)

Assim, a mudança, a transição, a passagem de um estado a outro forma personificados em Mercúrio. O caduceu de Mercúrio é, por excelência, o símbolo do Iniciado.

Associação entre fontes e capelas:
Capela da Flagelação (Açoutes) com a Fonte de Mercúrio.
Flagelação (Açoutes): é uma obra incompleta e de má qualidade de Fonseca Lapa, escultor de Vila Nova de Gaia. Cristo está atado a uma coluna. A inscrição diz:Apprehendit Pilatus Jesum, et flagelavit. Joan. 19, 1-"Prendeu Pilatos a Jesus, e o fez açoutar."

6ª fonte: Fonte de Saturno
Símbolos: mão, ceifeiroJosé Ramos: «Em seguida temos a Fonte de Saturno. Ele é o planeta ligado à morte, pois ceifa tudo aquilo que não constitui uma verdadeira realidade. Por isso, Saturno é aquele que põe à prova as obras e as ideias, acabando por ceifar todas as falsas realidades temporais. Daí que o seu símbolo - que está gravado na sua fonte -, seja a foice. Deste modo, está associado a todo o fenómeno de desprendimento da história do ser humano: desde a ruptura do cordão umbilical do recém-nascido até ao despojamento do ancião, passando pelos vários desprendimentos e renúncias que a vida nos proporciona: libertação dos instintos e da parte animalizante. Constitui assim um factor importante na conquista da vida espiritual. Saturno representa o cessar de um ciclo e o início de um novo. No homem, corresponde ao corpo físico. Na Alquimia, relaciona-se com o chumbo e a cor negra da matéria dissoluta e putrefacta.»

Saturno: pai de Júpiter. Na simbologia esotérica, indica-nos o caminho da disciplina, da responsabilidade e do trabalho. O simbolismo do Saturno romano não se identifica com o Cronos grego. Entre os romanos ele representa a era de ouro; é o herói civilizador, que ensina o cultivo da terra. Nas festas que lhe eram consagradas, as Saturnais, as relações sociais eram invertidas – os criados mandavam em seus senhores e estes serviam os seus escravos à mesa. Isso talvez seja uma obscura lembrança do facto de que Saturno havia destronado o pai, Urano, antes de, por sua vez, ser destronado por seu filho Zeus ou Júpiter. Para os sumérios e babilónios, Saturno é o astro da justiça e do direito, ligado às funções solares de fecundação, de governo e de continuidade na sucessão dos reinos e das estações.

Associação entre fontes e capelas:
Capela da Coroação de Espinhos com a Fonte de Saturno.

Na capela, temos um quadro que é formado por três figuras, e é obra do escultor Evangelista Vieira. Tem a inscrição: Exivit Jesus portans coronam spineam. Joan. 19, 5. - "Saíu Jesus trazendo a coroa de espinhos."

7ª fonte: Fonte de Júpiter (deslocada do lugar original)
José Ramos: «Continuando a ascensão da escadaria chegamos ao pátio circular onde se encontrava a fonte de Júpiter (actualmente está no alto, próximo de um hotel). Astrologicamente, Júpiter encarna o princípio do equilíbrio, da autoridade, da ordem, da abundância e da preservação da hierarquia estabelecida. Júpiter é o deus do raio e do trovão, e é precisamente o raio que encontramos na sua fonte. No homem está associado ao elemento vital e, na Alquimia, o metal que lhe corresponde é o estanho.»

Júpiter – Deus supremo dos romanos, corresponde ao Zeus dos gregos. É apresentado como a a divindade do céu, da luz diurna, do tempo que faz, e da também do raio e do trovão... poder soberano, presidente do conselho dos deuses, aquele de quem emana toda a autoridade.

Júpiter simboliza a ordem autoritária, imposta do exterior. Seguro do seu direito e do seu poder de decisão, não busca nem diálogo nem persuasão: troveja. (Chevalier e Gheerbrant, 1998)

Zeus – Descende dos reinos de Urano e de Cronos. É o organizador do mundo interior e exterior; é dele que depende a regularidade das leis físicas, sociais e morais. senhor dos deuses no panteão romano, era o deus do trovão, do céu, do tempo e do universo. Na simbologia esotérica Júpiter representa o Mestre. Na simbologia astrológica, Júpiter é crescimento, evolução, necessidade de aperfeiçoamento e fé, desejo de dar sentido à vida.

Símbolo: Zeus simboliza o reino do espírito, deus único. Lançando o relâmpago, simboliza o espírito e o esclarecimento da inteligência humana. Desencadeando o raio, simboliza a cólera de Deus, a punição, o castigo, a autoridade ultrajada: é o justiceiro. (Chevalier e Gheerbrant, 1998)

Capela do Caminho do Calvário: está representado Cristo levando aos ombros a cruz, arrastado por um soldado romano e seguido por Cireneu e várias mulheres. A inscrição diz: Bajulans sibi crucem exivit in...calvariae locum. Joan. 19, 5.-"Levando a cruz às costas, saíu para...o lugar do calvário."

A partir daqui as fontes deixam de estar associadas a uma divindade. Começa uma nova fase, mas antes de passarmos a esta nova parte da escadaria onde o percurso serpentiforme é ainda mais vincado, temos novo umbral, desta vez ladeado por duas colunas e uma enorme serpente enrolada em cada coluna. Estamos perante uma representação da Kundalini – quer nas duas serpentes na passagem à segunda fase, quer no próprio percurso serpentiforme.

Terminamos, então, a fase preparatória e iniciamos agora uma nova etapa: estamos prestes a iniciar o Escadório dos Cinco Sentidos – estética barroca, construído na vigência de D. Rodrigo, a partir de 1725.

Continua aqui.

p.s. Já agora, deixo o link para o lugar dos meus sonhos e devaneios: Clareirazinha. :)

3 comments:

luis botelho said...

É um trabalho fundamentado, com citações preciosas,tão entusiamante, que tendo estado recentemente em Braga (Setembro)refiz o percurso, confirmando a exatidão das referencias.

Luis Botelho.
beatosalut@gmail.com

Anonymous said...

Olá Existe mais artigos relacionados a este em seu site ?

eu quero muito em saber mais e adorei com a maneira que foi explicado o
assunto . Caso possa me orientar serei muito grato

Anonymous said...

Gran publicación, sin bloqueo, quería saber si podrías escribir
un exiguo más sobre este tema. Estaría demasiado obligado si pudieras proyectar un carente más.
¡Salud!