Sermão de Santo Eloy, do século VII :
Que nenhum christão não repare no dia em que saia de casa, nem na hora em que entre, porque todos os dias são obras de Deus;
Que ninguem se regule pela lua para emprehender qualquer cousa;
Que nenhum christão ligue credito ás rimas nem aos cantos magicos, porque são obra do diabo;
Que na festa de S. João, e em outras solenidades dos santos, que se não faça caso do solstício;
Que nenhum christão accenda candeias, nem faça votos nos templos pagãos á borda das fontes, ao pé das árvores, nas florestas ou nas encruzilhadas;
Que ninguém suspenda amuletos ao pescoço de um homem ou de qualquer animal;
Que ninguém faça lustrações para a prosperidade das ervas ou das cearas;
Que ninguém faça passar os seus rebanhos através das arvores ocas, ou de excavações no solo, porque é ao demónio que os querem consagrar;
Que nenhuma mulher se enfeite com collares de ambar;
Que ao tecer ou tingir a têa não invoqueis nem Minerva nem outra divindade funesta;
Não temais começar qualquer obra na lua nova;
Não invoqueis o Sol e a Lua com o nome de Senhores, não jureis por elles...
O Povo Portuguez nos seus Costumes, Crenças e Tradições, Teófilo Braga, 1885
2 comments:
Na minha opinião, é um sermão castrador e preconceituoso. Mostra como no século VII, a religião católica queria banir todas as religiões pagãs.
Felizmente, este sermão não teve muito sucesso, a meu ver. Actualmente, as pessoas regem-se pelas luas, principalmente na agricultura; utilizamos ervas para nos curar; juramos por Deus; utilizamos amuletos, principalmente contra o mau-olhado; usamos e abusamos de provérbios e outras rimas para fundamentar as nossas ideias...
Bem, só não me enfeito com colares de ambar, porque são caros! :-)
Estas e outras perseguições, como a empreendida por Martinho de Dume, são um pau de dois bicos.
Se por um lado, resultaram na extinção de muitos hábitos, crenças e modos de vida, pelo outro, são das poucas referências escritas existentes, que nos dão conhecimento acerca dos nossos antepassados!
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