Um artigo de 1905, publicado n' O Archeologo Português, fala-nos de um templo já desaparecido, em Trás-os-Montes, e que o autor comparou ao santuário de Panóias. Este templo localizava-se perto das margens do Tuela, na minha aldeia...
Deixo a única foto que conheço do templo, tirada em 1905, na vertente sul. Esta foto pouco ou nada mostra do templo desaparecido, contudo, para mim é profundamente significativa, porque mostra a face de uma pedra com o formato de um coração. Vi esta foto pela primeira vez em 2010 e impressionou-me imenso, por se tratar de uma pedra coração. Não fazia ideia. Contudo, toda a minha vida procurei pedras com o formato de um coração, pedras naturais, sem intervenção humana.. Sempre acreditei que essas pedras me mostravam o caminho de regresso a casa. E num dos momentos mais difíceis da minha vida, vi pedras coração por todo o lado, só que eu já não queria saber de nada daquilo. Então, num instante em que estava à sombra debaixo de um sobreiro, caiu em cima de mim um pequeno pedaço de cortiça, também com o formato de um coração. E eu voltei a acreditar nas minhas pedras.
Saturday, July 28, 2018
Thursday, July 26, 2018
Eu vejo a lua
Um post de um amigo fez-me pensar em Rumi, assim, aqui fica o pensamentos dele que eu mais aprecio:
Vejo a lua
- ela não precisa estar cheia.
Eu vejo a lua
- ela não precisa ter nascido.
Vejo a lua
- ela não precisa estar cheia.
Eu vejo a lua
- ela não precisa ter nascido.
p.s. Já agora, deixo o link para o lugar dos meus sonhos e devaneios: Clareirazinha.
Monday, July 09, 2018
Destino
Começo com um excerto do rubaiyat de Omar Khayyam:
Admito que já resolveste o enigma da Criação;
e o teu destino? Aceito que desvendaste a Verdade;
e o teu destino? Está bem, viveste cem anos felizes
e ainda tens muitos para viver; e o teu destino?
Durante muito tempo, pensei que o meu destino era manter o meu coração puro e que estava irremediavelmente condenada ao fracasso.
Algo mudou, esta manhã.
Ontem, quando me deitei estava tristíssima, mas de manhã, ao acordar, já estava bem. Não sei exactamente por que razão me sentia feliz, talvez fosse apenas por ser um novo dia. Foi nesse instante que me ocorreu que, se era quase impossível manter sempre um coração puro, ele poderia, ainda assim, regressar integro e inteiro, todas as manhãs. Dentro de nós, um coração tão novo como o dia.
Na verdade, manter um coração puro talvez nem seja um destino, em si mesmo, mas é certamente a primeira etapa do caminho, qualquer que seja o nosso destino.
Admito que já resolveste o enigma da Criação;
e o teu destino? Aceito que desvendaste a Verdade;
e o teu destino? Está bem, viveste cem anos felizes
e ainda tens muitos para viver; e o teu destino?
Durante muito tempo, pensei que o meu destino era manter o meu coração puro e que estava irremediavelmente condenada ao fracasso.
Algo mudou, esta manhã.
Ontem, quando me deitei estava tristíssima, mas de manhã, ao acordar, já estava bem. Não sei exactamente por que razão me sentia feliz, talvez fosse apenas por ser um novo dia. Foi nesse instante que me ocorreu que, se era quase impossível manter sempre um coração puro, ele poderia, ainda assim, regressar integro e inteiro, todas as manhãs. Dentro de nós, um coração tão novo como o dia.
Na verdade, manter um coração puro talvez nem seja um destino, em si mesmo, mas é certamente a primeira etapa do caminho, qualquer que seja o nosso destino.
Wednesday, July 04, 2018
Percepção
Antes de começar a escrever, gostaria de alertar para o
facto de as minhas verdades serem, em grande parte, verdades à La Palice. Mas
são o que são…
A nossa visão do mundo, e consequente representação do
mundo, com o foco no sujeito, em quem vê, é um conceito moderno.
O entendimento cartesiano da fenomenologia relaciona a
transcendência do mundo, do que é visível, com a imanência da consciência de
quem vê.
Nesta representação do mundo, não é o mundo em si mesmo que
detém o foco central, mas sim o sujeito que vê.
Assim, na minha humilde opinião, não nos é possível ver o
mundo dos deuses, a menos que nos libertemos do sujeito que vê, ou seja, a menos que nos libertemos da nossa consciência,
que colocamos na nossa visão de cada parte do mundo.
Eu penso que não é possível, de todo, ver o mundo, tal como
ele realmente é, a menos que o papel central deixe de ser de quem vê e passe a ser do
mundo, em si mesmo.
Vasarely, no Manifeste Jaune, propôs que, ao olhar uma
pintura, o sujeito suspende-se a sua consciência, que o olhar eliminasse a
bagagem da significação, de toda a significação. Então, se quem vê se visse privado
da sua consciência de ver, poderia ser visto pela pintura?
Eu considero esta abordagem absolutamente fascinante.
Contudo, por muito longe que nos levasse a reflexão do
domínio da percepção, quer em termos artísticos, quer filosóficos, esse não é
propriamente o objectivo deste texto.
Mas mantém-se a questão: os dois olhares distintos – o do
sujeito que vê e que, no acto de ver, vê apenas e só através da sua
consciência; e o do mundo, que nos olha de volta – podem coexistir num ponto,
do espaço/tempo?
Eu considero que não.
Nesse caso, encontrar o mundo dos deuses é, apenas e só, ser
visto por… e não ser o sujeito quem vê.
Assim, para encontrar o mundo dos deuses, eu teria que abdicar
voluntariamente da minha consciência, abdicar da minha representação do mundo,
abdicar da familiaridade de ver, deixando em suma de ser eu quem vê, para ser
visto.
Como é que se altera esta percepção? Todos nós sabemos que
há vários métodos, que não será preciso enumerar aqui. Há ainda os métodos
inerentes a cada um de nós, pessoais e privados.
Contudo, novamente na minha humilde opinião, o primeiro
passo para encontrar o mundo dos deuses é, precisamente, não o querer ver.
Se o sujeito, quem vê, nunca se liberta das suas
representações, se tudo o que vê está imbuído da sua própria consciência,
então, não entendo como poderá ver o mundo dos deuses. Mas, ainda assim,
poderá sempre olhar precisamente para não ver, permitindo-se ser visto.
Dancing Fairies, 1866, by August Malmstrom,
Dancing Fairies, 1866, by August Malmstrom,
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