No último piquenique nocturno de lua cheia, no mês de Setembro, afastei-me para sentir os deuses sozinha. Foi um ritual intenso... quando estava quase a acabar, notei que estava cheia de sede. Estranhei a sede. Entretanto senti que alguém se aproximava e comecei a terminar o ritual rapidamente. Era a minha amiga. Ela ficou tão espantada com a energia que se sentia ainda no local e à minha volta, que ficou visivelmente comovida.
A verdade era que, mesmo tendo terminado a invocação, o círculo continuava à minha volta. Senti que havia algo que faltava, que o ritual não se completara. A minha amiga começou a falar-me de todas as vezes que sentiu que existia algo mais no universo, estava emocionada... E eis que nessa altura, quase à meia noite, chegam dois homens que abrem a capela da Senhora da Lapa, uma pequena capela numa antiga gruta. Nós estávamos sentadas junto à porta. Um dos homens pergunta-nos se não queremos beber água da fonte sagrada, diz-nos que há muitas pessoas que vão lá só para beber aquela água. Incrível, dentro da capela havia uma fonte, no ponto mais interior da gruta. Eu não fazia ideia, nunca tinha encontrado a gruta/capela aberta...
Eu segurei a caneca de água, com as mãos a tremer, e dei-a à minha amiga, que bebeu um pequenino gole, quase com relutância. Quando eu bebi, o líquido na minha garganta era a água primordial, era água viva. Agradeci em silêncio à Senhora, agradeci-lhe com todo o meu coração. As dúvidas desapareceram. Senti-me acompanhada. Senti que de modo algum fazia os meus rituais sozinha. E agradeci também àqueles que me acompanhavam. Mentalmente fiz a invocação da velha oração celta que começa com "Que o caminho se abra à tua frente". Quando acabei, a energia dissipou-se e o ritual terminou. A espiral voltou para a terra, o círculo foi devolvido ao universo. A minha amiga começou a falar de coisas mais terra a terra e tudo voltou ao normal.
Mas há instantes que valem uma vida inteira... há instantes em que deixamos de ser quem somos, deixamos de ser um pequenino lugar e somos todo o universo. Apenas temos que ser capazes de nos entregar com todo o nosso ser a esses instantes, para que se realizem.
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