já vai algum tempo que não venho a este cantinho especial. As andanças da vida tem destas coisas... Mas hoje senti saudades de te ler. De ler as tuas palavras tão pessoais, tão tuas que me incutem um pouco de fé na minha vida. Espero que partilhes mais esse teu conhecimento sobre a tua religião, sobre a tua forma de ver e de estar na vida.
Pois é, Lughnasadh passou e já estamos em Mabon...
Nos equinócios procuro o equilíbrio, tento interiorizar a harmonia, recrio os velhos mitos... e sendo este o equinócio do outono, o mito é o de Perséfone.
Segundo este antigo mito, no dia do Equinócio de Outono, Hades (o deus grego do Submundo) encontrou a bela e jovem Perséfone, que colhia flores. Ficou tão encantado com a sua beleza que, instantaneamente, se apaixonou por ela. Agarrou-a, raptou-a e levou-a para a escuridão do seu reino, no Submundo. A deusa Deméter, mãe de Perséfone, procurou-a por todos os lugares mas, não a encontou. O seu sofrimento foi tão intenso que as flores e as árvores começaram imediatamente a murchar e a morrer. Os outros deuses viram-se então obrigados a negociar com Hades o retorno de Perséfone. Hades aceitou devolvê-la, desde que ela nada comesse no seu reino. Porém, a bela Perséfone foi enganada e comeu uma pequena semente de romã, tendo, então, que passar metade de cada ano com Hades no Submundo, por toda a eternidade.
Assim, em honra de Perséfone, como as tradicionais sementes de romã. Como-as de livre vontade, sem enganos, assumindo que aceito sem medo descer ao meu submundo.
Neste momento de equilíbrio no mundo, com a noite igual ao dia, lembro a mim própria que preciso tanto da noite como do dia. Louvo a minha luz e as minhas trevas...
O outono leva-nos ao encontro de um mundo de escuridão. Seguindo a roda do ano, parece-me que é um bom tempo para vivenciar essa escuridão que é, em si mesma, tão válida como a luz.
Já agora, deixa-me terminar com um excerto de um texto muito interessante, que encontras aqui: http://endovelicon.wordpress.com/2010/04/13/indo-alem-da-luz/#more-17
«A luz é uma ilusão. Ela nos mostra muito pouco do mundo à nossa volta. O que vemos com nossos olhos é apenas a reflexão da luz na superfície de outro objeto. Não vemos nada de seu passado, futuro, nem, o mais importante, vemos nada de sua natureza interior. Quando usamos os olhos para nos conectar só temos as experiências mais superficiais e rasteiras. Aprender a tecer conexões sem luz nos permite o potencial para relacionamentos muito mais profundos. Vamos do mundano ao espiritual simplesmente aprendendo a “ver” sem a luz. É a diferença entre olhar a foto de um morango e a experiência de tocar, cheirar, provar, ingerir e digerir essa refinada fruta. Assim meu trabalho de forjar relacionamentos, de enraizar, conectar, aprender a tocar, ouvir, ver e experimentar a Natureza, não é baseado na busca da luz. É exatamente o oposto. Eu consigo isso ao trabalhar com a escuridão que há dentro de tudo. Escuridão é a força primária da Natureza. Quase 100% da Natureza é escuridão. E, como druida, meu trabalho é o de me conectar com a terra, as pessoas e os deuses; buscar o intercâmbio da energia vital que chamamos de awen. Tendo visto que a maior parte da realidade está contida na escuridão, é lá que eu procuro a conexão de alma com alma que traz consigo o fluxo do awen sagrado.»
Maria, posso colocar mais uma questão? Estamos a aproximar-nos do Samhain. Como é que festejas esta passagem e celebras o novo ano? Tenho profundo interesse sobre a Roda do Ano Celta, mas não encontro muita informação fiável e aplicável. Podes ajudar-me?
Bem, a minha celebração de Samhain tem variado ao longo dos anos. Digamos que ainda não encontrei a medida certa... e celebrar Samhain não é algo simples. ;)
Tratando-se de um fim de ciclo, esta celebração precisa da alegria ritual, da euforia, do riso, do profundo sentido de festa. As máscaras são também elementos tradicionais nos momentos de mudança... bem, eu não costumo mascarar-me, mas nessa noite visto-me, na medida do possível, como se vestia a minha avó no início do século XX. :)
Que mais? A ceia de Samhain é fundamental! É claro que já tive imensas variações: desde uma passagem gastronómica pelos outros festivais da roda do ano, até um simples jantar de carne de porco e castanhas. E na minha casa também já é tradição a queimada galega no final da noite. :)
Este ano ainda não sei o que vou fazer. Certamente haverá a ceia de Samhain e, no dia seguinte, o tradicional magusto. :)
Sabes, eu também gosto muito de decorar a casa para Samhain - na verdade, eu decoro sempre a minha casa para cada uma das festa da roda do ano, doutra forma não há o sentido de festa. - Na decoração de Samhain entro um bocadinho na ideia de Halloween, apenas para dar à festa a alegria e o humor necessários, mas também decoro a casa com outros elementos, como folhas secas, bolotas e castanhas.
Bem, admito que aderi completamente à ideia de decorar abóboras. É algo tão divertido, que é quase irresistível. :)
Como vês, há sempre variações naquilo que se faz e na maneira como se faz. Mas, ainda assim, há elementos que são fundamentais: as velas, a ceia de carne de porco, vinho tinto, castanhas, maçãs e pão de bolota, a comida que se deixa na mesa para alimentar os espíritos que nessa noite nos visitam, o prato a mais na mesa para os nossos entes queridos que já partiram e que são convidados a celebrar connosco.
Eu não vou ao cemitério rezar por aqueles que partiram, mas faço uma das maiores festas do ano e convido-os a celebrar comigo.
Que mais? Bem, há algumas tradições que se perderam e que seria interessante recordar... vou fazer um post sobre isso, se possível ainda esta semana. :)
Maria, muito obrigada pela resposta e generosidade! Vou optar pela carne de porco com castanhas, vinho, maças e pelo Magusto. Tens de partilhar a receita do pão de bolota. ;-)
6 comments:
Querida Maria,
já vai algum tempo que não venho a este cantinho especial. As andanças da vida tem destas coisas... Mas hoje senti saudades de te ler. De ler as tuas palavras tão pessoais, tão tuas que me incutem um pouco de fé na minha vida.
Espero que partilhes mais esse teu conhecimento sobre a tua religião, sobre a tua forma de ver e de estar na vida.
Beijinhos
Maria,
posso colocar um questão pessoal? Como festejaste o Mabon?
Beijinhos
Olá minha querida! :)
Pois é, Lughnasadh passou e já estamos em Mabon...
Nos equinócios procuro o equilíbrio, tento interiorizar a harmonia, recrio os velhos mitos... e sendo este o equinócio do outono, o mito é o de Perséfone.
Segundo este antigo mito, no dia do Equinócio de Outono, Hades (o deus grego do Submundo) encontrou a bela e jovem Perséfone, que colhia flores. Ficou tão encantado com a sua beleza que, instantaneamente, se apaixonou por ela. Agarrou-a, raptou-a e levou-a para a escuridão do seu reino, no Submundo. A deusa Deméter, mãe de Perséfone, procurou-a por todos os lugares mas, não a encontou. O seu sofrimento foi tão intenso que as flores e as árvores começaram imediatamente a murchar e a morrer. Os outros deuses viram-se então obrigados a negociar com Hades o retorno de Perséfone. Hades aceitou devolvê-la, desde que ela nada comesse no seu reino. Porém, a bela Perséfone foi enganada e comeu uma pequena semente de romã, tendo, então, que passar metade de cada ano com Hades no Submundo, por toda a eternidade.
Assim, em honra de Perséfone, como as tradicionais sementes de romã. Como-as de livre vontade, sem enganos, assumindo que aceito sem medo descer ao meu submundo.
Neste momento de equilíbrio no mundo, com a noite igual ao dia, lembro a mim própria que preciso tanto da noite como do dia. Louvo a minha luz e as minhas trevas...
O outono leva-nos ao encontro de um mundo de escuridão. Seguindo a roda do ano, parece-me que é um bom tempo para vivenciar essa escuridão que é, em si mesma, tão válida como a luz.
Já agora, deixa-me terminar com um excerto de um texto muito interessante, que encontras aqui: http://endovelicon.wordpress.com/2010/04/13/indo-alem-da-luz/#more-17
«A luz é uma ilusão. Ela nos mostra muito pouco do mundo à nossa volta. O que vemos com nossos olhos é apenas a reflexão da luz na superfície de outro objeto. Não vemos nada de seu passado, futuro, nem, o mais importante, vemos nada de sua natureza interior. Quando usamos os olhos para nos conectar só temos as experiências mais superficiais e rasteiras. Aprender a tecer conexões sem luz nos permite o potencial para relacionamentos muito mais profundos. Vamos do mundano ao espiritual simplesmente aprendendo a “ver” sem a luz. É a diferença entre olhar a foto de um morango e a experiência de tocar, cheirar, provar, ingerir e digerir essa refinada fruta. Assim meu trabalho de forjar relacionamentos, de enraizar, conectar, aprender a tocar, ouvir, ver e experimentar a Natureza, não é baseado na busca da luz. É exatamente o oposto. Eu consigo isso ao trabalhar com a escuridão que há dentro de tudo. Escuridão é a força primária da Natureza. Quase 100% da Natureza é escuridão. E, como druida, meu trabalho é o de me conectar com a terra, as pessoas e os deuses; buscar o intercâmbio da energia vital que chamamos de awen. Tendo visto que a maior parte da realidade está contida na escuridão, é lá que eu procuro a conexão de alma com alma que traz consigo o fluxo do awen sagrado.»
Maria, posso colocar mais uma questão?
Estamos a aproximar-nos do Samhain. Como é que festejas esta passagem e celebras o novo ano? Tenho profundo interesse sobre a Roda do Ano Celta, mas não encontro muita informação fiável e aplicável. Podes ajudar-me?
Olá Clara.
Bem, a minha celebração de Samhain tem variado ao longo dos anos. Digamos que ainda não encontrei a medida certa... e celebrar Samhain não é algo simples. ;)
Tratando-se de um fim de ciclo, esta celebração precisa da alegria ritual, da euforia, do riso, do profundo sentido de festa. As máscaras são também elementos tradicionais nos momentos de mudança... bem, eu não costumo mascarar-me, mas nessa noite visto-me, na medida do possível, como se vestia a minha avó no início do século XX. :)
Que mais? A ceia de Samhain é fundamental! É claro que já tive imensas variações: desde uma passagem gastronómica pelos outros festivais da roda do ano, até um simples jantar de carne de porco e castanhas. E na minha casa também já é tradição a queimada galega no final da noite. :)
Este ano ainda não sei o que vou fazer. Certamente haverá a ceia de Samhain e, no dia seguinte, o tradicional magusto. :)
Sabes, eu também gosto muito de decorar a casa para Samhain - na verdade, eu decoro sempre a minha casa para cada uma das festa da roda do ano, doutra forma não há o sentido de festa. - Na decoração de Samhain entro um bocadinho na ideia de Halloween, apenas para dar à festa a alegria e o humor necessários, mas também decoro a casa com outros elementos, como folhas secas, bolotas e castanhas.
Bem, admito que aderi completamente à ideia de decorar abóboras. É algo tão divertido, que é quase irresistível. :)
Como vês, há sempre variações naquilo que se faz e na maneira como se faz. Mas, ainda assim, há elementos que são fundamentais: as velas, a ceia de carne de porco, vinho tinto, castanhas, maçãs e pão de bolota, a comida que se deixa na mesa para alimentar os espíritos que nessa noite nos visitam, o prato a mais na mesa para os nossos entes queridos que já partiram e que são convidados a celebrar connosco.
Eu não vou ao cemitério rezar por aqueles que partiram, mas faço uma das maiores festas do ano e convido-os a celebrar comigo.
Que mais? Bem, há algumas tradições que se perderam e que seria interessante recordar... vou fazer um post sobre isso, se possível ainda esta semana. :)
Maria,
muito obrigada pela resposta e generosidade!
Vou optar pela carne de porco com castanhas, vinho, maças e pelo Magusto. Tens de partilhar a receita do pão de bolota. ;-)
Um beijinho e obrigada
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