Em tempos escrevi num fórum, a propósito de uma velha festa transmontana, o seguinte:
Na pequena aldeia de Cidões, concelho de Vinhais, ainda se mantém uma velhinha tradição. Na noite das bruxas, a 31 de Outubro, celebra-se como sempre se celebrou esta noite mágica, numa noite de folia e transgressão, de generosidade e alegria.
Enormes panelas de três pernas, que aqui se chamam potes, cozinham velhas e boas cabras. E do velho caldeirão há-de sair um repasto que chegue para todos... suculenta carne de cabra, pão cozido em antigos e comunitários fornos de lenha, castanhas assadas, maçãs, figos e nozes.
Aqui a tradição é o que sempre foi, não há bruxas de vassouras e chapéus cónicos nem há abóboras iluminadas. Há o que sempre houve: a velha tradição de dar de comer a quem aparecer, o interminável vinho e aguardente que aquece a noite escura e fria, as histórias de arrepriar de outros tempos, as tropelias dos rapazes que evocam as energias renovadoras e propiciatórias do caos que caracteriza o fim e princípio de ciclo... e há a fogueira intemporal e eterna, para que também nós sejamos faróis na noite escura.
Ao reler o livro de Teófilo Braga, O Povo Portuguez nos seus Costumes, Crenças e Tradições, 1885, deparo com a referência à feiticeira que adivinha pelo caldeirão (o alguidar), nas encruzilhadas. Teófilo Braga diz-nos que era nas encruzilhadas, ou no encontro dos caminhos, que colocavam o caldeirão mágico. Cita Garret que, no Arco de Sant'Anna refere feitiços que fervem n'um caldeirão de trez pés. No mesmo livro está ainda a seguinte citação, de Gil Vicente, Auto das Fadas:
Este caminho vae para lá
Est'outro atravessa cá;
Vós no meio, alguidar,
Que aqui cruz não hade estar.
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