Possivelmente, a única atenção ritualística que a terra recebe actualmente é a libação semanal da água suja e cheia de sabão, fruto do ritual urbano do "dia das limpezas" ou do ritual suburbano da "lavagem do carro". E, quer gostemos ou não, é o que fazemos, é o que ensinamos aos nossos filhos.
Se conseguirmos ver os rituais como aquilo que eles realmente são (não como superstições ou jogos, mas sim como ferramentas ou construções com efeitos reais) poderemos então compreender a sua importância e o seu valor como parte de uma reintrodução da consciência pagã na nossa cultura civilizada padecente.
Por favor, não me digam que não acreditam na magia e no sobrenatural. Eu não quero saber. Eu não apelo à vossa fé. Apelo à acção. Eu quero que os velhos rituais se voltem a fazer, que os façam, quer acreditem neles ou não, mas que os façam... e que deixem a energia fluir.
E, de resto, o que é a magia, o que é o sobrenatural? Aquilo que negamos porque não o conseguimos explicar? Chamamos a essas coisas o «sobrenatural» e dizemos que elas não podem acontecer ou existir, dado que estão situadas para além dos limites da nossa visão limitada da Natureza que a ciência e a religião exigem. Mas, essas coisas são aspectos da realidade da Natureza, mas não são exteriores ao que é natural. Aquilo que não é natural é a nossa ciência, a nossa religião e a nossa economia. Porque todas elas são conduzidas numa total e deliberada ignorância face à Natureza, na crença ou esperança de que um dia seja ela a mudar de modo a satisfazer comodamente as nossas necessidades. Dá-nos uma agradável ilusão de controlo, mas que não é natural e que constitui uma verdadeira loucura, em todos os sentidos da palavra.
Precisamos voltar a reconhecer a velha matriz de energia que percorre os lugares antigos, que passa pelos menires e pelas antas. Precisamos recuperar o velho saber ligado à magia. É a magia (em todos os sentidos) que a nossa civilização perdeu, soterrada por coisas pouco fidedignas como a ciência ignorante e a religião arrogante. E é de magia (mais uma vez, em todos os sentidos) que a nossa civilização necessita se quiser recuperar a sua sanidade, a sua alegria e a sua razão de viver.
Se quisermos que a nossa cultura recupere os seus magos (os seus «sábios»), teremos que recuperar a nossa consciência da Natureza, a nossa consciência de mágicos. Como os mágicos e como mágicos, necessitamos de aprender a conhecer-nos. Precisamos de aprender a sentir as necessidades da terra, de modo a que possamos aprender não só a dominá-la mas também, simultaneamente, a enchê-la. Para isso são necessárias alterações radicais à nossa cosmovisão. Necessária e literalmente alterações radicais, dado que precisaremos de recuperar uma consciência das nossas raízes (quer em termos do nosso passado, quer da Natureza), de modo a torná-las realidade.
Excertos do livro Agulhas de Pedra de Tom Graves.
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