Thursday, April 19, 2007
Friday, April 13, 2007
Antecipando e preparando o Primeiro de Maio
Donde vem a tradição de se ir para o campo no primeiro de Maio? Porquê esta sacralidade em comunhão com a natureza? Bem, para começar, as árvores e a vegetação encarnam sempre a vida inesgotável: o que corresponde na tradição pagã à realidade absoluta, ao sagrado por excelência. Talvez seja por isso que, em várias religiões, o cosmos é simbolizado por uma árvore.
Sir James Frazer, estudou várias crenças e rituais religiosos e criou a chamada "escola da mitologia vegetal", em que afirma que a maioria das divindades eram originalmente espíritos das árvores. Diz também que o culto das árvores, em especial dos bosques sagrados, constituía uma forma universal de comportamento religioso. Provavelmente a mais primitiva... Mas, se reparares, mesmo em termos bíblicos tudo começa no Jardim. Pois é... :)
Os Druidas oficiavam em plena natureza, debaixo de uma árvore, preferencialmente um carvalho com visco. Mas a própria Bíblia estabelece: Louvar-me-eis num altar da terra; Se fizerdes um altar de pedra não o construireis com pedras talhadas, porque será manchado se empregardes cinzel (Êxodo 20: 25, segundo creio). O que dizer, então, das magnificas catedrais? Mas já me estou a distrair... deixemos isso para outro post.
Mircea Eliade diz que a fecundidade, a prosperidade, a saúde ou, a um nível mais elevado, a imortalidade e a juventude eterna, estão concentradas nas plantas ou nas árvores. Assim, tudo o que é vivo e criador, em estado de regeneração contínua, se exprime por símbolos vegetais. O cosmos é representado sob a forma de uma árvore porque, da mesma forma que esta, ele regenera-se periodicamente.
A Primavera é uma ressurreição da vida universal e, por conseguinte, da vida humana. Por este acto cósmico todas as forças de criação reencontram o seu vigor inicial. A vida é integralmente reconstituída, tudo começa de novo. Em resumo, repete-se o acto primordial da criação cósmica, porque toda a regeneração é um novo nascimento, um regresso a esse tempo mítico em que apareceu, pela primeira vez, a forma que se regenera.
A ideia de regeneração do ser humano por uma participação activa deste na ressurreição do mundo vegetal e, portanto, na regeneração do cosmos, está implícita no ritual das Maias. As Maias são uma reminiscência da maior festa sagrada da religião celta (que por sua vez foi buscar esta data sagrada a uma tradição ainda mais antiga e imemorial). Os celtas chamavam-lhe Mai-Eve, Belténe ou Beltaine.
Bem, podemos dizer que, desde épocas recuadas e por toda a história religiosa do mundo antigo, o primeiro de Maio foi e continua a ser a data sagrada por excelência. Na tradição celta, Beltaine era religiosamente consagrado à Grande Mãe. Antigamente, era no início de Maio que se reuniam nas florestas e nas montanhas imensas multidões que, pelo recolhimento religioso e depois pela santa e boa alegria, celebravam a Terra Mãe e a regeneração do cosmos. E participando na regeneração do cosmos, também o homem era regenerado.
Só para acabar: em 1946 estabeleceu-se, no dia 1 de Maio, a festa do trabalho em todas as nações. É o dia do trabalhador. Charroux afirma que isso aconteceu porque vários círculos iniciáticos tomaram, e ainda tomam, medidas para que o primeiro de Maio se venha a tornar na festa de todos os povos da terra. Ele diz que é preciso que a data da maior festa sagrada do nosso hemisfério se imponha novamente, começando assim o início da justa reposição das coisas.
Não quererás também tu ir até ao campo neste primeiro de Maio, sim, para celebrar as Maias? Eu comungarei com a Natureza, celebrarei a regeneração cósmica, interiorizarei a Primavera da Vida. Sim, porque por muito que o Inverno nos mutile, há-de sempre chegar a Primavera e, com ela, também nós voltaremos inteiros. Não achas que essa capacidade de voltarmos inteiros é importante? Então, porque não seguir a tradição e no dia 1 de Maio celebrá-la, isto é, lembrar que essa capacidade de nos regenerarmos existe em nós (elementos integrantes da natureza) assim como em toda a natureza...
Por fim, levarei para a minha casa as giestas floridas, seguindo esta tradição imemorial. Enfeitarei com as giestas a casa e, muito especialmente, a porta de entrada, mostrando ao mundo que também eu participo do renascimento cósmico.
A sério, não queres também tu participar neste ritual de regeneração? Acredita, isso dos rituais é importante...
Em qualquer caso, desejo-te um primeiro de Maio verdadeiramente regenerador, espero que fiques em paz contigo próprio e que a felicidade se manifeste.
p.s. Escrevi este texto nos fóruns do SAPO, em 26.04.2000
Sir James Frazer, estudou várias crenças e rituais religiosos e criou a chamada "escola da mitologia vegetal", em que afirma que a maioria das divindades eram originalmente espíritos das árvores. Diz também que o culto das árvores, em especial dos bosques sagrados, constituía uma forma universal de comportamento religioso. Provavelmente a mais primitiva... Mas, se reparares, mesmo em termos bíblicos tudo começa no Jardim. Pois é... :)
Os Druidas oficiavam em plena natureza, debaixo de uma árvore, preferencialmente um carvalho com visco. Mas a própria Bíblia estabelece: Louvar-me-eis num altar da terra; Se fizerdes um altar de pedra não o construireis com pedras talhadas, porque será manchado se empregardes cinzel (Êxodo 20: 25, segundo creio). O que dizer, então, das magnificas catedrais? Mas já me estou a distrair... deixemos isso para outro post.
Mircea Eliade diz que a fecundidade, a prosperidade, a saúde ou, a um nível mais elevado, a imortalidade e a juventude eterna, estão concentradas nas plantas ou nas árvores. Assim, tudo o que é vivo e criador, em estado de regeneração contínua, se exprime por símbolos vegetais. O cosmos é representado sob a forma de uma árvore porque, da mesma forma que esta, ele regenera-se periodicamente.
A Primavera é uma ressurreição da vida universal e, por conseguinte, da vida humana. Por este acto cósmico todas as forças de criação reencontram o seu vigor inicial. A vida é integralmente reconstituída, tudo começa de novo. Em resumo, repete-se o acto primordial da criação cósmica, porque toda a regeneração é um novo nascimento, um regresso a esse tempo mítico em que apareceu, pela primeira vez, a forma que se regenera.
A ideia de regeneração do ser humano por uma participação activa deste na ressurreição do mundo vegetal e, portanto, na regeneração do cosmos, está implícita no ritual das Maias. As Maias são uma reminiscência da maior festa sagrada da religião celta (que por sua vez foi buscar esta data sagrada a uma tradição ainda mais antiga e imemorial). Os celtas chamavam-lhe Mai-Eve, Belténe ou Beltaine.
Bem, podemos dizer que, desde épocas recuadas e por toda a história religiosa do mundo antigo, o primeiro de Maio foi e continua a ser a data sagrada por excelência. Na tradição celta, Beltaine era religiosamente consagrado à Grande Mãe. Antigamente, era no início de Maio que se reuniam nas florestas e nas montanhas imensas multidões que, pelo recolhimento religioso e depois pela santa e boa alegria, celebravam a Terra Mãe e a regeneração do cosmos. E participando na regeneração do cosmos, também o homem era regenerado.
Só para acabar: em 1946 estabeleceu-se, no dia 1 de Maio, a festa do trabalho em todas as nações. É o dia do trabalhador. Charroux afirma que isso aconteceu porque vários círculos iniciáticos tomaram, e ainda tomam, medidas para que o primeiro de Maio se venha a tornar na festa de todos os povos da terra. Ele diz que é preciso que a data da maior festa sagrada do nosso hemisfério se imponha novamente, começando assim o início da justa reposição das coisas.
Não quererás também tu ir até ao campo neste primeiro de Maio, sim, para celebrar as Maias? Eu comungarei com a Natureza, celebrarei a regeneração cósmica, interiorizarei a Primavera da Vida. Sim, porque por muito que o Inverno nos mutile, há-de sempre chegar a Primavera e, com ela, também nós voltaremos inteiros. Não achas que essa capacidade de voltarmos inteiros é importante? Então, porque não seguir a tradição e no dia 1 de Maio celebrá-la, isto é, lembrar que essa capacidade de nos regenerarmos existe em nós (elementos integrantes da natureza) assim como em toda a natureza...
Por fim, levarei para a minha casa as giestas floridas, seguindo esta tradição imemorial. Enfeitarei com as giestas a casa e, muito especialmente, a porta de entrada, mostrando ao mundo que também eu participo do renascimento cósmico.
A sério, não queres também tu participar neste ritual de regeneração? Acredita, isso dos rituais é importante...
Em qualquer caso, desejo-te um primeiro de Maio verdadeiramente regenerador, espero que fiques em paz contigo próprio e que a felicidade se manifeste.
p.s. Escrevi este texto nos fóruns do SAPO, em 26.04.2000
Thursday, April 12, 2007
Quem poderá calcular a órbita da sua própria alma?
"As pessoas cujo desejo é unicamente a auto-realização, nunca sabem para onde se dirigem. Não podem saber. Numa das acepções da palavra, é obviamente necessário, como o oráculo grego afirmava, conhecermo-nos a nós próprios. É a primeira realização do conhecimento. Mas reconhecer que a alma de um homem é incognoscível é a maior proeza da sabedoria. O derradeiro mistério somos nós próprios. Depois de termos pesado o Sol e medido os passos da Lua e delineado minuciosamente os sete céus, estrela a estrela, restamos ainda nós próprios. Quem poderá calcular a órbita da sua própria alma?"
Oscar Wilde, in De Profundis
Falling Leaves, Allegory of Autumn, by Hugues Merle, 1872.
Oscar Wilde, in De Profundis
Falling Leaves, Allegory of Autumn, by Hugues Merle, 1872.
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