Saturday, June 18, 2011
Menina e Moça
Ele será assim o livro mais totalmente pagão, ou pré-cristão, da nossa cultura.
Criptomnesicamente, realizando uma regressão, ou repossessão, duma idade nossa espiritual e época cultural revoluta. Esse, um dos seus altos testemunhos, nacional e europeu, para nós, agora, vivendo no século XX.»
Dalila Pereira da Costa, A Nova Atlântida.
Autumn by Anne-Louis Girodet de Roussy-Trioson (1767 – 1824).
Tuesday, January 26, 2010
O que podem ser os mouros da tradição popular
Excertos do texto de Martins Sarmento, O que podem ser os mouros da tradição popular, 1881.
Texto integral aqui.
Fica também um texto de André Pena, sobre os mouros galegos.
E para terminar, deixo o link para um bela compilação de lendas de mouros na região de Trás-os-Montes.
Wednesday, December 30, 2009
Peregrinos
Monday, March 09, 2009
O tempo cíclico
“Pensa na tua vida e nos respectivos acontecimentos. Coloca-os numa linha com o teu nascimento numa ponta e a morte na outra. E aqui tens uma linha isolada, que começa e termina no vazio. (...) Existem outras linhas que podem estender-se em paralelo com a tua, colidir com ela ou atravessá-la, mas todas elas terminarão como começaram: com nada. (...) Mas ambos sabemos que a vida não é bem assim: sabemos que a morte é seguida pelo renascer, tal como nos comprova o renascer da vida que ocorre na Primavera e, se tivermos sorte, vemos isso também quando procuramos no fundo da nossa memória.”
“Nascemos, vivemos e morremos. (...) O que é que está no centro deste círculo? O quê ou quem é responsável por este movimento circular? (...) A minha alma, a minha verdadeira identidade, que perdura em todas as minhas vidas.”
“Agora esqueçamo-nos do indivíduo e olhemos para o mundo. As estações do ano são claramente cíclicas: sucedem-se umas às outras, inexoravelmente. Por isso podemos dispô-las num círculo, o círculo do ano. O mesmo acontece com os dias: cada dia nasce de madrugada, atinge o seu ponto alto ao meio dia e depois começa a escurecer, dando lugar à noite, altura em que morre, renascendo depois na madrugada seguinte. (...) O círculo do dia e o círculo do ano tem afinidades: o Inverno é como a morte da noite, quando tudo fica quieto. A Primavera é como o nascer do dia, quando os pássaros acordam e louvam o céu. O Verão é como o meio-dia, uma altura de calor máximo e em que o crescimento é maior. E o Outono é como o fim de tarde, pois até mesmo as suas cores se parecem com as cores do pôr-do-sol. Temos assim dois ciclos da Terra em sintonia. (...) aquilo que provoca especificamente o ciclo do dia e as estações do ano é o sol. É ele que faz girar a roda. (...) E que ligação julgas existir entre o teu ciclo e o ciclo da Terra? (...) A primavera corresponde à época da tua infância, o Verão à fase mais jovem da idade adulta, o Outono à tua fase madura e o Inverno à tua morte. E no centro da tua vida está a tua alma, tal como o centro da roda da Terra está o sol.”
A roda do ano, a roda óctupla, “baseia-se na profunda e misteriosa ligação entre a fonte das nossas vidas individuais e a fonte da vida do Planeta, reconhecendo oito períodos particulares durante o ciclo anual que são muito significativos e marcados por observâncias especiais. Desses períodos, quatro são de carácter astral (directamente associados à posição do sol no céu), enquanto os outro quatro se encontram relacionados com a vida da Terra e as fases da lua. Se associarmos o sol ao princípio masculino e a lua ao princípio feminino, verificamos que este esquema oferece um conjunto equilibrado de ligações entre as observâncias correspondentes a um e a outro desses princípios.”
Citações retiradas do livro Os Mistérios dos Druidas, de Philip Carr-Gomm, Editora Zéfiro, 2008.
p.s. Já agora, deixo o link para o lugar dos meus sonhos e devaneios: Clareirazinha. :)
Thursday, January 22, 2009
Alimento sagrado
Há um dito magnífico, num dos Upanixades: "Oh maravilhoso, oh maravilhoso, oh maravilhoso, eu sou alimento, eu sou alimento, eu sou alimento! Eu sou um comedor de alimento, eu sou um comedor de alimento, eu sou um comedor de alimento!"
Já não pensamos assim, hoje, a respeito de nós mesmos. Mas agarrando-se a você mesmo, e não se permitindo ser alimento, você pratica o acto negativo primordial, enquanto negação da vida. Você interrompe o fluxo! E a liberação do fluxo é a grande experiência do mistério, inerente ao acto de agradecer a um animal, que está prestes a ser comido, por ter se doado.
Você também será doado, quando chegar o momento.
Monday, November 17, 2008
Intuição
Nada que seja dito em relação à intuição deve ser entendido como uma depreciação da ciência ou do pensamento racional. Ao combater a autoridade das cambaleantes instituições religiosas, a ciência e o racionalismo libertaram-nos da tirania do dogma e das idéias arbitrárias. A insistência nas provas e na verificação rigorosa, coração e alma do cientificismo, possibilita-nos, coletivamente e ao longo do tempo, separar o verdadeiro do falso. Em uma sociedade pluralista e secular, tais padrões são imperativos. E a ciência deu-nos uma maneira de analisar e modelar com precisão o mundo material, provendo-nos de fartura, conforto e riqueza sem precedentes.
Mas, como quase todas as rebeliões, a revolução científica criou alguns novos problemas. Ensoberbados pelo sucesso, os fanáticos da ciência invadiram terreno anteriormente dominado pela filosofia, pela metafísica, pela teologia e pela tradição cultural. Pretenderam aplicar os métodos que funcionavam tão bem no mundo material para responder questões sobre a psique, o espírito e a sociedade. Através da experimentação e da aplicação da razão, que foi elevada ao pináculo da mente, presumiu-se que chegaríamos a conhecer os segredos do universo e que aprenderíamos a viver. Para realizá-lo, lançamo-nos a aperfeiçoar os instrumentos objetivos do conhecimento; inventamos aparelhos e procedimentos que ampliavam o alcance dos nossos sentidos e tomavam mais rigorosos nossos cálculos e nossa lógica. Com o tempo, nossas organizações e instituições educacionais transformaram o cientificismo na condição sine qua non do conhecimento, no modelo de como pensar.
Essa tendência ideológica reflete-se no nosso vocabulário; as palavras que sugerem veracidade originam-se da tradição racional-empírica. Nós usamos a palavra lógico, mesmo quando a lógica não foi aplicada, para indicar que uma observação parece correta. Tão grande é a consideração para com a razão que usamos a palavra razoável para referirnos a qualquer coisa que julguemos apropriada, por exemplo: "Mil cruzeiros é um preço razoável para pagarmos por uma entrada de teatro." Também temos a forma substantiva de razão, que é o que lhe pedem que lhe mostre para justificar uma proposição. As pessoas exigem razões; elas raramente dizem "Dê-me uma boa sensação de por que você pensa que ele está errado", ou "Qual é a sua intuição para supor que exercícios físicos irão curar minha insônia?"
A palavra racional, que, estritamente falando, sugere o uso da razão e da lógica, tornou-se sinônimo de sanidade mental, enquanto que irracional conota loucura. Sensato e fazer sentido, junto com seu antônimo sem sentido, relacionam solidez e verdade com os órgãos dos sentidos, como se o significado adequado viesse somente através desses canais - a convicção clássica do empirismo. Objetivo veio a significar justiça, honestidade e precisão, sugerindo que a única maneira de se obter conhecimento puro é permanecer distanciado e tratar o que quer que se estude como um objeto material. Quanto à palavra científico, ela é a justificação definitiva para qualquer asserção.
O aspecto desastroso dessa tendência não é a veneração da racionalidade ou a insistência nas evidências experimentais, mas a depreciação da intuição. Todo o empenho do cientificismo tem sido para minimizar a influência do conhecedor. Mas sabemos, por comprovação da própria ciência, que a consagrada separação teórica entre observador e observado, objeto e sujeito, não mais pode ser admitida. Como Werner Heisenberg observou ao formular o princípio da incerteza, que provou que no nível subatômico o ato da observação influencia o que está observado: "Mesmo na ciência, o objeto da pesquisa não é mais a natureza em si mas a investigação da natureza pelo homem." Além do que, toda disciplina está enraizada em um conjunto de suposições e crenças (o que o filósofo Thomas Kuhn chamou de paradigma) e, como todos nós, os cientistas individualmente possuem convicções, apegos e paixões que influenciam seu trabalho. Realmente, sem isso o cientista nunca reuniria coragem e tenacidade para descobrir alguma coisa que valha a pena.
As instituições que nos ensinam a usar nossas mentes, assim como as organizações onde as usamos, estão de tal modo comprometidas com o ideal racional-empírico, que a intuição raramente é discutida, quanto mais aplaudida ou encorajada. Desde a escola primária até a faculdade, e na maioria dos nossos ambientes de trabalho, somos ensinados a desenvolver o modelo idealizado de cientificismo no nosso modo de pensar, na solução de nossos problemas e nas tomadas de decisões. Como resultado, a intuição é submetida a diversas formas de censura e repressão. O que a psicóloga Blythe Clinchy disse com relação ao início da educação aplica-se a toda a nossa cultura: "Podemos convencer nossos alunos de que esse modo de pensamento é uma maneira irrelevante ou indecente de abordar a matéria formal. Nós realmente não aniquilamos a intuição; pelo contrário, eu acho que nós a enterramos." Há duas ironias nessa situação. Primeiro, o modelo que procuramos imitar é uma espécie de ficção, errado em algumas de suas suposições e inapropriado em muitas de suas aplicações. Segundo, a intuição é um contribuinte vital, embora restrito, às próprias instituições que tentaram enterrá-la.
"Se a sua única ferramenta for um martelo", dizia Abraham Maslow, "você começa a ver tudo em termos de pregos." Se os seus únicos instrumentos cognitivos forem racionais-empíricos, sua visão ficará restrita ao que puder ser analisado e medido. Indague as grandes questões metafísicas sobre a identidade humana e a natureza da realidade, e receberá de volta respostas materialistas. O eu passa a ser visto como um catálogo de traços de personalidade analisáveis, e o cosmos torna-se uma coleção de objetos separados do eu, uma visão incompleta com conseqüências que vão desde o desenvolvimento limitado do potencial humano até a pilhagem da natureza. Apenas a intuição profunda pode penetrar o transcendente e iluminar o sublime.»
PHILIP GOLDBERG
Monday, October 13, 2008
Mestre Lima de Freitas

Friday, September 05, 2008
Aos homens de outros tempos, àqueles que viviam no cimo das montanhas...
Rainer Maria Rilke diz-nos que: "estas mudanças geram subitamente muitas outras e, como acontecia ao homem no cimo da montanha, nascem então percepções invulgares e sensações estranhas que parecem exceder o limite do suportável. Mas também elas têm por força de ser vividas. Temos de aceitar a nossa existência, por mais longe que ela chegue; tudo nela tem de ser possível, mesmo o inaudito. É no fundo esta a única forma de coragem que nos é exigida: que encaremos ousadamente o mais estranho, o mais fabuloso, o mais inexplicável. Que os homens tenham sido cobardes a este respeito trouxe incontáveis danos à vida; as experiências a que se chama "aparições", o "mundo dos espíritos", a morte, todas estas coisas tão familiares foram expulsas da vida por uma resistência quotidiana, de tal forma que os sentidos com que as poderíamos apreender regrediram. Já para não falar de Deus. Mas o medo do inexplicável não empobreceu apenas a existência do indivíduo, cerceou também as relações entre uma pessoa e outra, como se as retirasse do leito do rio das possibilidades infinitas e as levasse para o terreno baldio das margens onde nada acontece. Pois não é apenas por inércia que as relações humanas são tão indizivelmente monótonas, repetindo-se de caso para caso sem renovação, é porque os homens receiam qualquer experiência que julguem ultrapassar as suas forças. Mas só quem está preparado para tudo, só quem nada exclui, nem mesmo o mais enigmático, viverá como uma coisa viva a relação com outra pessoa e irá ele próprio até ao limite da sua existência. Pois se concebermos a existência do indivíduo como um espaço maior ou mais pequeno, percebemos que muitos conhecem apenas um canto do seu espaço, um lugar à janela, uma passadeira por onde caminham para trás e para diante."
De que temos medo afinal? Rilke bem que insiste connosco que "não temos razão para desconfiar do nosso mundo porque ele não está contra nós. Se o mundo tem sustos, são os nossos sustos, se tem abismos, são abismos que nos pertencem, se tem perigos, temos que tentar amá-los. E se guiarmos a nossa vida pelo princípio de nos atermos sempre ao difícil, veremos que o que agora ainda nos parece estranho se tornará familiar e leal. Como podíamos nós esquecer os velhos mitos que estão na origem de todos os povos; o mito do dragão que no último momento se transforma em princesa; os dragões da nossa vida são porventura todos eles princesas que apenas esperam ver-nos belos e valorosos por uma vez. No fundo, o que nos parece terrível talvez seja indefeso, talvez espere a nossa ajuda."
Tuesday, August 26, 2008
Poderá um grupo de indivíduos ou um indivíduo isolado fazer realmente alguma diferença?
Apanhados entre as inflexíveis leis da natureza e o capricho de acontecimentos muito para lá de qualquer previsibilidade, que podemos nós fazer senão ir com a onda? Um fatalismo resignado parece ser a resposta mais racional à irracionalidade da vida. Na prática, isto significa desistir da responsabilidade, da reflexão e da escolha. Significa seguir automaticamente quaisquer necessidades ou desejos que os genes tenham codificado nos nossos cromossomas, pelo menos dentro dos limites aceites pela sociedade em que vivemos. Ocuparmo-nos do mais importante – o nosso conforto, prazeres e ambições – é, de acordo com este cenário, praticamente tudo o que podemos fazer.
Neste ponto, começa a emergir um estranho paradoxo. Se toda a gente adoptar esta atitude – se todos nos submetermos às forças determinantes da causalidade – é muito improvável que a humanidade consiga sobreviver. Os que têm acesso aos recursos continuarão a açambarcá-los a um ritmo cada vez mais acelerado, os que nada têm erguer-se-ão para exigir o seu quinhão, e a guerra de todos contra todos será inevitável."
Volto a perguntar: poderá um pequeno grupo de indivíduos ou um indivíduo isolado fazer realmente alguma diferença?
Vou deixar que Mihaly Csinkszentmihalyi continue a responder por mim: "Está na moda afirmar que nenhuma acção individual pode ter um efeito significativo no curso da história. Se Sócrates e Joana d’Arc não se tivessem sacrificado por aquilo em que acreditavam, postula esta teoria, quaisquer outros teriam assumido as respectivas causas. Em todo o caso, os seus gestos, por muito espectaculares que tenham sido, não tiveram uma influência real no curso dos acontecimentos, que é determinado pelo vector das forças sociais e não por escolhas individuais.
Este argumento pode ter mérito no que toca às descobertas científicas e tecnológicas. Se, em vez de conseguirem fazer voar o seu avião, os irmãos Wright tivessem falhado – como tantos outros haviam falhado antes deles – qualquer outra pessoa teria acabado por aperfeiçoar, um ou dois anos mais tarde, uma máquina voadora. A ciência e a tecnologia têm até agora seguido a sua própria trajectória de desenvolvimento, que a mente humana tem aceitado acompanhar passivamente. Mas nem todas as acções humanas são assim determinadas. Os indivíduos verdadeiramente criativos são aqueles que conseguem, contra todas as pressões do instinto e do conhecimento actual, visualizar um modo de vida capaz de tornar muitos outros indivíduos mais livres e mais felizes.
Romper com a aceitação fatalista dos programas genéticos ou históricos exige, no mínimo, que se acredite na liberdade e na autodeterminação. Dificilmente alguém aceitará correr riscos e trabalhar para o bem comum se não acreditar que isso fará alguma diferença. Estará, porém, uma tal pessoa simplesmente a iludir-se a si mesma? Ao fim e ao cabo, os axiomas da ciência postulam que todos os acontecimentos têm que ter causas e, portanto, se S. Francisco decidiu distribuir todos os seus bens pelos pobres e retirar-se para uma vida de oração com outros jovens, foi com certeza porque queria irritar um pai rico, ou porque era um homossexual latente, ou talvez porque tinha um qualquer desequilíbrio hormonal.
É, no entanto, possível aceitar o axioma da causalidade sem nos tornarmos reducionistas. Das muitas causas que determinaram as acções de S. Francisco, uma das principais foi a convicção de que elas eram importantes, e de que ele próprio tinha a obrigação de transformar o mundo que o rodeava. Esta convicção é, em si mesma, uma causa. A ideia do livre-arbítrio é uma profecia que se cumpre a si mesma: os que a seguem libertam-se do determinismo absoluto das forças externas."
Eu acredito que nós temos a obrigação de transformar o mundo que nos rodeia, nós temos a responsabilidade de descobrir porque estamos aqui e para onde vamos, nós temos direito de escolha, podemos escolher evoluir como seres humanos, ir mais longe.
Eu acredito, de verdade, que um grupo de indivíduos ou um indivíduo isolado pode fazer realmente a diferença.
Tuesday, August 12, 2008
Geometria Sagrada
Thursday, April 12, 2007
Quem poderá calcular a órbita da sua própria alma?
Oscar Wilde, in De Profundis
Falling Leaves, Allegory of Autumn, by Hugues Merle, 1872.
Wednesday, September 27, 2006
Poderá a Intuição ser explicada pela ciência?
Comecemos pelas tais bases científicas: Einstein, com a teoria da Relatividade Geral, deu-nos uma descrição muito boa do espaço-tempo em larga escala. Pois é, mas os físicos sabem que não há provas reais que justifiquem a utilização das equações de Einstein a escalas subatómicas. Mas a escalas subatómicas, entramos no território da física quântica. E a física quântica diz que o espaço-tempo não pode ser contínuo. Pois é, a física quântica defende que o próprio espaço-tempo deve ter uma estrutura granular a uma pequeníssima escala, neste caso o tempo de Planck (se não sabes o que é, imagina um comprimento de tempo muito curto). Assim, a estrutura do espaço-tempo não é uma linha contínua, ou só aparentemente é uma linha-contínua...
Pois, mas então não nos deslocamos do passado para o futuro? Não é essa a seta do tempo? Hmm, Stephen Hawking dir-nos-ia que há pelo menos três setas diferentes do tempo: há a seta termodinâmica, que te indica o sentido do tempo em que a entropia aumenta, há a seta psicológica (ou o tempo psicológico) que te dá a sensação de que o tempo passa, e ainda há a seta cosmológica que mede o sentido do tempo em que o Universo está a expandir-se em vez de contrair-se.
Mas, voltemos um pouco atrás: dizia eu que a física quântica não defende um espaço-tempo contínuo, mas um espaço-tempo que a escalas subatómicas é de estrutura granular. Imaginemos uma imensa rede cheia de minúsculos "buracos de verme", isto é, túneis através do espaço-tempo cujas extremidades são semelhantes a buracos negros em miniatura.
Fantástico, não é? E segundo a física quântica, seriam estes buracos de verme que formariam a estrutura daquilo que nós vemos como um espaço e um tempo uniformes e contínuos.
Repara que nesta representação microscópica do espaço-tempo, a terminação de cada buraco de verme poderia estar ligada à terminação de outro buraco de verme, num outro espaço-tempo, em qualquer outro lugar do universo. Neste domínio microscópico não se aplica a teoria da relatividade geral e, assim, “algo” poderia passar da extremidade de um destes buracos de verme para a extremidade de outro buraco de verme, em tempo nenhum. Claro que como estas extremidades são muitíssimo pequenas, nenhuma matéria poderia passar por elas, só mesmo partículas subatómicas como um protão. Mas, e aqui é que chegamos à parte interessante, poderia passar informação: zeros e uns, representados por partículas subatómicas. A informação propagar-se-ia, mas ainda assim precisaríamos de a converter. Precisaríamos de ter integrado um sistema operativo que nos apresentasse essa informação de uma forma inteligível, doutra forma ignorávamo-la como ruído.
Assim, de diferentes regiões do espaço-tempo (nós próprios num espaço-tempo diferente???...) poderia chegar-nos informação pelos túneis do tempo e quando a descodificássemos, interpretávamo-la como intuição, ou seja, informação não dedutiva (não foi produzida por um raciocínio dedutivo), mas ainda informação... vinda de uma fonte desconhecida mas fiável.
Lindo, não é? :)
p.s. Publiquei este texto há algum tempo nos fóruns do Sapo. Hoje encontrei-o por acaso e decidi repensá-lo. Que acham?... :)
Wednesday, March 15, 2006
Tabula Smaragdina
Baseando-nos para tanto no texto latino, transcrevemos de seguida a Tábua Esmeraldina:
1. «Na verdade, decerto e sem dúvida: Quando se pretende obrar os milagres de uma coisa, o de baixo é igual ao de cima e o de cima é igual ao de baixo.»
2. «Assim como todas as coisas procedem do Uno e da meditação do Único, também todas as coisas nascem deste Uno mediante conjugação.»
3. «O seu pai é o Sol, sua mãe é a Lua, o vento carregou-o no seu ventre e a Terra é a sua ama de peito.»
4. «Ele é o pai das maravilhas do mundo inteiro.»
5. «A sua força é perfeita quando se converte em terra.»
6. «Suavemente e com todo o cuidado, separa a terra do fogo e o fino do grosso.»
7. «A fim de receber a força do de cima e a força do de baixo, sobe da Terra ao Céu e daí volta a descer à Terra. Assim possuirás a luz de todo o mundo, assim as trevas se afastarão de ti.»
8. «Esta é a força de todas as forças, pois vence tudo o que é fino e penetra em tudo o que é sólido.»
9. «Por conseguinte, o mundo pequeno acha-se feito à imagem e semelhança do mundo grande.»
10. «Por isso, e deste modo, virão a obrar-se prodigiosas aplicações.»
11. «E por isso me chamam Hermes Trismegisto, pois eu possuo as três partes da sabedoria do mundo inteiro.»
12. «Terminado está assim aquilo que disse sobre a obra do Sol.»
Titus Burckhardt, Alquimia: Significado e Imagem do Mundo
Tuesday, February 21, 2006
Fé
Miguel de Unamuno, Do Sentimento Trágico da Vida.
A Demoniac by Joseph Middeleer, 1893.
Friday, February 17, 2006
Miguel de Unamuno, Do Sentimento Trágico da Vida
O amor espiritual a si mesmo, a compaixão que uma pessoa adquire para consigo própria, poderá, porventura, chamar-se de egotismo; mas é o que de mais oposto existe ao vulgar egoísmo. Porque deste amor ou compaixão de ti próprio, deste intenso desespero, porque, do mesmo modo que não eras antes de nasceres, também depois de morreres não serás, passas a ter compaixão, isto é, a amar todos os teus semelhantes e irmãos, em aparência miseráveis sombras que desfilam do seu nada ao seu nada, chispas de consciência que brilham um momento nas infinitas e eternas trevas. E dos demais homens, teus semelhantes, passando pelos que são mais semelhantes a ti, pelos que contigo convivem, vais-te compadecer de todos os que vivem, e até daquilo que, porventura, não vive, mas existe. Aquela longínqua estrela que brilha durante a noite, lá no alto, há-de apagar-se algum dia, e tornar-se-á pó, e deixará de brilhar e de existir. E, como ela, todo o céu estrelado. Pobre céu!
E se é doloroso ter de deixar de ser algum dia, mais doloroso seria, talvez, continuar a ser sempre o mesmo, e só o mesmo, sem poder ser outro ao mesmo tempo, sem poder ser ao mesmo tempo tudo o resto, sem poder ser tudo.
Se olhares para o universo do modo mais próximo e profundo que puderes olhar, que é em ti próprio; se sentires, e não só comtemplares, todas as coisas na tua consciência, onde todas elas deixaram a sua dolorosa marca, atingirás as profundezas do tédio da existência, o poço da vaidade das vaidades. E é assim como chegarás, a compadecer-te de tudo, ao amor universal.
Para amares tudo, para teres compaixão de tudo, do humano e extra-hunamo, do que vive e não vive, é necessário que sintas tudo dentro de ti mesmo, que personalizes tudo. Porque o amor personaliza tudo quanto ama, tudo aquilo de que se compadece. Só nos compadecemos, isto é, só amamos, o que se nos assemelha, e assim aumenta a nossa compaixão, e com ela o nosso amor pelas coisas, à medida que descobrimos as semelhanças que têm connosco. Ou, melhor, é o nosso próprio amor, que por si só tende a crescer, o que nos revela essas semelhanças. Se consigo compadecer-me e amar a pobre estrela que um dia desaparecerá do céu, é porque o amor, a compaixão, me faz sentir nela uma consciência, mais ou menos obscura, que a leva a sofrer por não ser mais do que uma estrela e por ter de deixar de o ser, um dia. Pois toda a consciência o é de morte e de dor.
Consciência, conscientia, é conhecimento partilhado, é consentimento, e con-sentir é con-padecer.
O amor personaliza tudo o que ama. Só é possível apaixonarmo-nos por uma ideia personalizando-a. E quando o amor é tão grande e tão vivo e tão forte e transbordante que tudo ama, então, ele tudo personaliza, e descobre que o Todo total, o Universo, também é Pessoa. Tem uma Consciência, Consciência que, por sua vez, sofre, se compadece e ama, isto é, é consciência. E esta Consciência do Universo, que o amor descobre personalizando tudo o que ama, é o que chamamos Deus. E assim a alma compadece-se de Deus e sente que Ele se compadece dela, ama-o e sente-se amada por Ele, dando abrigo à sua miséria no seio da miséria eterna e infinita, que é, ao eternizar-se e tornar-se infinita, a própria felicidade.
Deus é, pois, a personalização do Todo, é a Consciência eterna e infinita do Universo. Consciência presa da matéria e esforçando-se por se libertar dela. Personalizamos o Todo para nos salvarmos do Nada, e o único mistério verdadeiramente misterioso é o mistério da dor.
A dor é o caminho da consciência, e é por ela que os seres vivos atingem a consciência de si. Porque ter consciência de si mesmo, ter personalidade, é saber-se e sentir-se distinto dos outros seres, e só se consegue sentir essa distinção com o choque, com a dor maior ou menor, com a sensação do próprio limite. A consciência de si mesmo não é mais do que a consciência da própria limitação. Sinto-me eu mesmo ao sentir que não sou os outros; saber e sentir até onde sou é saber onde deixo de ser, e a partir de onde não sou.
E como saber que se existe não sofrendo nem muito nem pouco? Como voltar sobre si, lograr consciência reflexa, senão através da dor? Quando se tem prazer, esquecemo-nos de nós próprios, de que existimos, entramos noutra coisa, alienamo-nos. E só nos ensimesmamos, voltamos a nós próprios, a sermos nós, na dor."
p.s. Já agora, deixo o link para o lugar dos meus sonhos e devaneios: Clareirazinha. :)
Wednesday, February 15, 2006
Um pensamento de Aldous Huxley
The Summer Moon – Bait Gatherers by Charles Lees (1800-1880).
Tuesday, February 14, 2006
Viagem Interior
"Esse piedoso rabino, Eisik de Cracóvia, teve um sonho que lhe mandava que fosse a Praga: aí, sob a grande ponte que leva ao castelo real, descobriria um tesouro escondido. O sonho repetiu-se três vezes, e o rabino decidiu-se a partir. Chegado a Praga, encontrou a ponte, mas guardada por sentinelas; Eisik não ousou investigar. Girando sempre pelos arredores, atraiu a atenção do capitão dos guardas; este perguntou-lhe amavelmente se perdera alguma coisa. Com ingenuidade, o rabino contou-lhe o seu sonho. O oficial explodiu em gargalhadas: «Realmente, homenzinho!», disse-lhe ele, «tu usaste os teus sapatos para percorrer todo este caminho simplesmente por causa de um sonho? Que pessoa, de posse da sua razão, acreditaria num sonho?» O próprio oficial ouvira uma voz em sonhos: «Falava-me de Cracóvia, ordenando-me que fosse lá e procurasse um grande tesouro na casa de um rabino cujo nome era Eisik, filho de Jekel. O tesouro devia ser descoberto num recanto poeirento, onde estava enterrado por detrás do fogão.» Mas o oficial não tinha qualquer fé nas vozes escutadas em sonhos: era uma pessoa de juízo. O rabino inclinou-se profundamente, agradeceu-lhe e apressou-se a regressar a Cracóvia. Cavou no canto abandonado da casa e descobriu o tesouro que pôs fim à sua miséria."
E agora os comentários de Heirich Zimmer: "Assim, o verdadeiro tesouro, o que põe fim à nossa miséria e às nossas provações, nunca está muito longe, não é preciso ir buscá-lo a um país longínquo, jaz enterrado nos recessos mais íntimos da nossa própria casa, isto é, do nosso próprio ser. Está atrás do fogão, o centro que fornece de vida e calor, que comanda a nossa existência, o coração do nosso coração, se soubermos cavar. Mas há então o facto estranho e constante de que é só após uma viagem piedosa a uma região longínqua, num país estrangeiro, sobre nova terra, que o significado dessa voz interior que guia a nossa procura poderá revelar-se-nos. E a esse facto estranho e constante junta-se outro: aquele que nos revela o sentido da nossa misteriosa viagem interior deve ser, ele mesmo, um estrangeiro, doutra crença ou de outra cultura."