Monday, March 09, 2009

O tempo cíclico

Hoje ao responder a um post no blog de um amigo, voltei ao sempre eterno tema do tempo cíclico. É um dos meus estandartes. Vejamos a este respeito o que nos diz Philip Carr-Gomm:

“Pensa na tua vida e nos respectivos acontecimentos. Coloca-os numa linha com o teu nascimento numa ponta e a morte na outra. E aqui tens uma linha isolada, que começa e termina no vazio. (...) Existem outras linhas que podem estender-se em paralelo com a tua, colidir com ela ou atravessá-la, mas todas elas terminarão como começaram: com nada. (...) Mas ambos sabemos que a vida não é bem assim: sabemos que a morte é seguida pelo renascer, tal como nos comprova o renascer da vida que ocorre na Primavera e, se tivermos sorte, vemos isso também quando procuramos no fundo da nossa memória.”

“Nascemos, vivemos e morremos. (...) O que é que está no centro deste círculo? O quê ou quem é responsável por este movimento circular? (...) A minha alma, a minha verdadeira identidade, que perdura em todas as minhas vidas.”

“Agora esqueçamo-nos do indivíduo e olhemos para o mundo. As estações do ano são claramente cíclicas: sucedem-se umas às outras, inexoravelmente. Por isso podemos dispô-las num círculo, o círculo do ano. O mesmo acontece com os dias: cada dia nasce de madrugada, atinge o seu ponto alto ao meio dia e depois começa a escurecer, dando lugar à noite, altura em que morre, renascendo depois na madrugada seguinte. (...) O círculo do dia e o círculo do ano tem afinidades: o Inverno é como a morte da noite, quando tudo fica quieto. A Primavera é como o nascer do dia, quando os pássaros acordam e louvam o céu. O Verão é como o meio-dia, uma altura de calor máximo e em que o crescimento é maior. E o Outono é como o fim de tarde, pois até mesmo as suas cores se parecem com as cores do pôr-do-sol. Temos assim dois ciclos da Terra em sintonia. (...) aquilo que provoca especificamente o ciclo do dia e as estações do ano é o sol. É ele que faz girar a roda. (...) E que ligação julgas existir entre o teu ciclo e o ciclo da Terra? (...) A primavera corresponde à época da tua infância, o Verão à fase mais jovem da idade adulta, o Outono à tua fase madura e o Inverno à tua morte. E no centro da tua vida está a tua alma, tal como o centro da roda da Terra está o sol.”

A roda do ano, a roda óctupla, “baseia-se na profunda e misteriosa ligação entre a fonte das nossas vidas individuais e a fonte da vida do Planeta, reconhecendo oito períodos particulares durante o ciclo anual que são muito significativos e marcados por observâncias especiais. Desses períodos, quatro são de carácter astral (directamente associados à posição do sol no céu), enquanto os outro quatro se encontram relacionados com a vida da Terra e as fases da lua. Se associarmos o sol ao princípio masculino e a lua ao princípio feminino, verificamos que este esquema oferece um conjunto equilibrado de ligações entre as observâncias correspondentes a um e a outro desses princípios.”

Citações retiradas do livro Os Mistérios dos Druidas, de Philip Carr-Gomm, Editora Zéfiro, 2008.

p.s. Já agora, deixo o link para o lugar dos meus sonhos e devaneios: Clareirazinha. :)

7 comments:

Amergin da Lusitânia said...

Interessante tema, este da roda do ano. Mais do que uma concepção linear, com um início e um fim, os nossos antepassados valorizavam o conceito cíclico, no qual o tempo era uma eternidade em círculo ou espiral.

Sou um leitor assíduo do teu blog!

:)

Carlos Pereira jr (merlimkerunnus) said...

Otimo post! Um livro clássico sobre o tema escrito por um historiador das religiões comparadas é O MITO DO ETERNO RETORNO de MIRCEA ELIADE. Uma leitura que recomendo.

O Galaico said...

Ola Maria...

Tenho notado de ano para ano que as estações influenciam me influenciam cada vez mais.

Em diversas épocas, diversas reacções para os mesmo problemas...

Quer queiram quer não somos todos influenciados por estes poderes naturais...

Maria said...

@Amergin, obrigada. Eu também sou uma leitora assidua do teu blog. :)

@Carlos, O Mito do Eterno Retorno é realmente um livro fascinante, como de resto são todos os livros de Mircea Eliade. Eu li este livro ainda bastante jovem e, confesso, influenciou-me muitíssimo, não só pela filosofia inerente ao mito do eterno retorno, mas também pela propria abordagem que Eliade faz dos Mitos que, para mim, foi uma visão inteiramente nova. Obrigada, é um bom tema para um próximo post. :)

@Galaico, nós fazemos parte da natureza, o problema é que cada vez estamos menos conscientes... mas tenho fé que isso há-de mudar. :)

Amergin da Lusitânia said...

Para vermos como o nosso conceito de tempo está completamente "desajustado" do "ritmo cósmico", basta vermos o início do ano: 1 de Janeiro. Não significa nada! Nem um acontecimento Solar, nem Lunar, nem estelar... meramente uma convenção dos homens. Uma convenção conveniente, mas falsa e virtual, que nos afasta do verdadeiro ritmo da natureza naturante e da natureza naturada...

Beijinhos para ti maria e saudações para todos.

Lemniscata said...

Mas que blog tão interessante, às vezes encontra-se destas coisas pela calada da noite :)! Até breve *****

elaneobrigo said...

alta explicação...

pena que não respeitamos minimamnete estes ciclos...

o que noto é que só a lua cheia tem interesse nos dias de hoje... o resto passa completamente ao lado.