Senhora, que te posso dizer? Não te amei?
Quando ouvi o canto da cotovia não te escutei?
Ou nos silêncios clarividentes das noites de luar...
Não te pressenti na sombra e na luz, por não te amar?
E não te invoquei nas chamas das antigas fogueiras?
Não fui sempre tua, desde as primeiras brincadeiras?
Não te encontrei numa ancestral fonte sagrada?
E quando bebi a tua água viva, não te sentiste amada?
Não percorri as tuas clareiras com fé no meu coração?
Não te procurei nos velhos carvalhos e não comi o teu pão?
Não celebrei e não talhei o círculo como antigamente?
Não te invoquei no poder da ave e da serpente?
Não senti por ti o sabor frio e amargo da discriminação
daqueles que, por te ignorarem, se julgam quem não são?
Não subi todas as montanhas cheia de alegria?
Não procurei sempre a tua eterna sabedoria
que se encontra nos sonhos e nas ideias solitárias?
Não acreditei nas minhas intuições visionárias?
Não atravessei rios gelados em longínquas terras
e não fui onde me mandaste ir em todas as eras?
Não te senti na neve e na chuva, e na terra molhada?
Não te encontrei na claridade da manhã desejada?
Ou na alegria e na beleza do olhar de velhas e crianças
quando nos seus olhos brilhavam as tuas danças?
Não te senti no murmúrio de brisas e ventos
que me traziam memórias antigas e pensamentos
daqueles que há muito haviam sido esquecidos?
Senhora, não é por ti que recrio tempos perdidos?...
4 comments:
Triskelsinho... Decepcionada com alguma coisa?
É simplesmente o tempo de arrancar as minhas máscaras, libertar-me delas neste fim de ciclo, para renascer com a minha verdadeira face. :)
Meu querido amigo, se nunca questionarmos as nossas motivações, como poderemos saber se o nosso coração se mantém puro?
Ontem, quando procurava uma resposta a uma questão deveras importante para mim, abri ao acaso o livro "Porto do Graal" de Lima de Freitas e li esta frase: "O mais importante de tudo é saber quem sou: não o que penso ser ou desejo ser ou pareço ser ou quero parecer. O que sou".
Um belo poema!...
Cabe dizer que Infelizmente não conheço pessoalmente a abadia de Glastonbury apenas sei sobre ela através de referências existentes em estudos sobre o ciclo arthuriano e mitologia celta. Mas concordo plenamente com vc sobre a transcendência do espaço profano através da experiência simbólica ou mitológica. Sou um apaixonado leitor de C G Jung, bem como de Mircea Eliade, com um profundo e irracional interesse por mitologia celta... Através do mito apreendo minha existência como uma espiral, como uma espécie de magico labirinto onde se faz ao infinito a individuação de tudo o que sou.
Que lindo! :)
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