Thursday, November 11, 2021

A dança das nossas fragonas

Bem, a noite passada, voltei outra vez à Etnografia do Leite de Vasconcelos, no volume VIII ele escreve acerca das festividades populares. Quando chegamos a meio de Janeiro, há a festa de S. Gonçalo. Esta festa era uma festa das mulheres. 

No início do século XX, ainda se praticavam os velhos rituais pagãos. Leite de Vasconcelos refere as danças e a algazarra das mulheres dentro da igreja, em Amarante, e mostra-se chocado com a descompustura da ação final, mas não é capaz de nos dizer exactamente que ação era esta. Mas outros foram. Assim, sabe-se que no final da dança, que decorria dentro da igreja depois das celçebrações religiosas, as mulheres levantavam as saias e mostravam o sexo ao santo. Bem, à laia de justificação, Leite de Vasconcelos diz que “S. Gonçalo desempenha em geral um papel pronunciadamente fálico”. Basta ver que, ainda em Amarante, o manjar ceremonial desta festa era um bolo de trigo e a estes pães/bolos dava-se o nome de quilhões (testículos). 

As lendas também ligavam S. Gonçalo a uma personagem feminina conhecida como D. Loba - o que me leva a pensar se isto não estará relacionado com as lupercaes, que se celebravam em Roma a 15 de fevereiro, em honra do deus Pan, mas nas quais também estava presente a memória da loba.

Voltemos às Fragonas – num texto do final do século XIX,, da autoria de um frade e com o título de O Folguedo, foi esse o nome que o frade deu às mulheres que dançavam ao S. Gonçalo. Fragonas eram mulheres do campo, rudes e agrestes. 

Na minha opinião, estas mulheres devem ser lembradas, não nos podemos esquecer delas (e de tantas outras!)… e também não nos podemos esquecer que a dança era também uma forma de culto, sobretudo para as mulheres do norte de Portugal.



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