O meu pai era um cristão devoto, que, conhecendo a história da família, já imagina que eu me poderia tornar pagã, pelo que me contou, noite após noite, a Canção de Rolando, numa versão muito própria. Assim, eu cresci a ouvir, vezes sem conta, a descrição de uma batalha sangrenta, de cristãos contra pagãos, em que os pagãos eram diziamdos sem dó nem piedade. O meu pai enaltecia Rolando, o herói invencível. Aquela invencibilidade de Rolando e o desprezo com que matava os indefesos pagãos, acabou por ter o resultado oposto ao que o meu pai esperava. Eu fiquei do lado dos mais fracos e acabei por odiar o herói Rolando. Só muito mais tarde é que percebi que o meu pai estava a contar-me a batalha de Roncesvalles ao contrário, Rolando morreu nessa batalha e as tropas cristãs do imperador Carlos Magno sofreram um pesada derrota, às mãos dos pagãos armados com paus e pedras. Mas esse conhecimento tardio pouco importou, o meu imaginário já estava criado e eu tendo para a versão que me contaram em criança. Muito mais tarde, descobri Orlando Furioso, de Ludovico Ariostro, o poema épico que canta o herói apaixonado, perdido e louco. Ó meus deuses! :D
Moralidade:
nós não controlamos nada, o controlo é uma ilusão. Por isso, eu escolho
simplesmente deixar-me ir com a corrente, sem mais questionamentos. Lo que
será, será. ;)
Voltando ao tema que me trouxe aqui, a dança e as encruzilhadas, deixo esta referência: “As bruxas saem à noite, e dançam com o Diabo nas encruzilhadas (Trás-os-Montes).” Leite de Vasconcelos, Etnografia Portuguesa, volume VIII, pp. 22.
Bem, durante a minha infância, eu ouvi várias histórias de bruxas e feiticeiras, que dançavam nas encruzilhadas e ai de quem se metesse com elas. Talvez seja por isso que eu insisto em ensinar ao meu filho que ele pertence a um povo que dança.
Assim, esta noite, quero deixar-vos um vídeo, que funciona bem como esboço do um ritual mágico no qual eu gostaria de participar. Com algumas mudanças, naturalmente. Para começar, a música poderia estar mais voltada para os ancestrais. A orientação seria outra, a mulher que estivesse a orientar teria que nos ligar à força da magia de outros tempos, através do recurso às velhas palavras ignotas, que eram as únicas reconhecidas como verdadeiramente mágicas, pelo povo e pela igreja que as perseguiu incansavelmente. Mesmo assim, Consiglieri Pedroso ainda recolheu algumas, sobretudo aqui no Minho. Palavras de poder, palavras proibidas, palavras da espiritualidade das mulheres. E, por fim, naqueles momentos de paragem, a pose teria que obedecer a uma cinesiologia mágica. (Hmm… um exemplo de cinesiologia mágica é a imagem de um dedo a fazer no ar movimentos circulares em volta de um eixo imaginário).
Eu
acredito que a espiritualidade das mulheres passa pelo corpo e pelo inconsciente.
Ah! E pelo prazer. ;)
Então, dançamos? ;) Ver vídeo
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