Até ler Veiga de Oliveira, ainda que eu entendesse a necessidade de nos libertarmos daquilo que nos mutila ao longo dos diversos invernos da nossa vida, eu não ritualizava essa libertação em Beltane. Contudo, agora, isso parece-me absolutamente necessário.
Para provar o novo chá é necessário primeiro esvaziar a chávena. Se deitarmos o novo chá na chávena que ainda tem chá velho, não estaremos verdadeiramente a provar o novo chá...
O ritual de comer o caldo de castanhas, antes do nascer do sol de Beltane, rapidamente se tornou essencial, para mim. Porque considero que é essencial libertarmo-nos das forças do Inverno, do Inverno em nós, esvaziarmo-nos de tudo o que nos mutilou, morrer para nascer de novo. Só assim renascemos com a força do novo dia.
E que melhor maneira de nos libertarmos daquilo que já não queremos, o nosso Inverno, do que digerindo-o? As castanhas, naturalmente, vêm de Samhain, são o fruto do Inverno. Comemo-las e digerimo-las, e assim nos libertamos... e aceitamos libertos e vazios o novo, a outra metade do ano.
Há uma beleza e uma sabedoria maravilhosas nesses velhos e esquecidos rituais, que a tradição popular trouxe até nós. E que, na minha opinião, não deveriam ser ignorados.
Assim, dos meus rituais de Beltane, fazem parte a manducação cerimonial do caldo de castanhas antes do nascer do sol e o piquenique após o sol nascente, de onde regresso com as flores amarelas das giestas, que coloco na porta da minha casa, assumindo que também eu estou presente na regeneração do cosmos.
Termino com o link, para outro dos meus textos sobre Beltane.